quinta-feira, 17 de maio de 2012

História verídica sobre a beleza escondida nos dias comuns

Um músico de rua postou-se com o seu violino numa entrada da estação L'Enfant Plaza, no metrô de Washington.
O músico tocou durante quarenta e três minutos. Bach para começar, depois o Ave Maria de Schubert, Manuel Ponce, Massenet e novamente Bach.
Eram 8h da manhã, hora de movimento. Durante aqueles 43 minutos, 1097 pessoas passaram pelo local, a maioria a caminho do trabalho nas repartições do Estado que se situam na região.
Três minutos passados, um homem de meia idade prestou atenção ao que o músico tocava e abrandou a marcha sem se deter, seguindo depois em passos acelerados.
Meio minuto mais tarde, o violinista recebeu o primeiro dólar: sem parar, uma mulher colocou uma nota na caixa do violino. Seis minutos após começar a tocar, finalmente um homem parou e, depois de ver as horas no celular, encostou-se durante três minutos à parede, a ouvir Bach. Pela primeira vez na vida, esse homem deu dinheiro a um músico de rua.
Um dos que prestou mais atenção foi um menino negro de três anos, que atrasou a marcha da mãe que o levava pela mão.
O menino não largou o violinista de vista enquanto este tocava Schubert, puxando a mãe para parar e continuando a olhar para trás. Ela, já atrasada para o deixar na creche antes de ir para o trabalho, teve de arrastá-lo.
Todas as crianças que passaram pelo músico tiveram reação semelhante, e foram o único grupo com um padrão de comportamento constante.
Durante os três quartos de hora, apenas sete pessoas pararam durante mais de um minuto para apreciar a música.
Um conhecedor de música clássica, depois de ouvir deslumbrado os 9 minutos finais da execução, deixou 5 dólares ao violinista
No fim, o músico recolheu 32 dólares e 17 centavos deixados por 27 pessoas.
Quando acabava de tocar uma peça, ninguém aplaudia. Da mesma forma que os passantes pareciam não ouvir a música, pareciam não reparar que ela parara.
Só uma pessoa reconheceu o violinista: uma mulher que chegou quase no fim, ficou parada à sua frente com um grande sorriso até ele acabar, apresentou-se e deu-lhe 20 dólares

Todo os outros não perceberam que o violinista era Joshua Bell, um dos melhores músicos vivos.
Ele executou naquele átrio algumas das mais difíceis partituras até hoje escritas, com um violino Stradivarius de 1713 avaliado em 3,5 milhões de dólares
Três dias antes de Bell tocar no metro de Washington, a sua apresentação no Symphony Hall de Boston tivera lotação esgotada, apesar de um bilhete para os lugares medianos custar 100 dólares.
A apresentação de Joshua Bell incógnito na estação de metrô foi uma ideia dele mesmo e foi organizada pelo diário Washington Post, no quadro de uma investigação sobre as percepções, os gostos e as prioridades de ação das pessoas (reportagem em www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2007/04/04/AR2007040401721.html )

As questões eram:
• Num ambiente comum, a uma hora pouco apropriada, somos capazes de reconhecer a beleza?
• Paramos para apreciá-la?
• Podemos reconhecer o talento num contexto inesperado?

Uma das possíveis conclusões desta experiência poderia ser a seguinte:

Se não temos tempo para parar e ouvir um dos melhores músicos do mundo tocar algumas das mais belas partituras jamais compostas, ao lado de quantas outras coisas excepcionais passaremos nós ?
Veja no vídeo abaixo essa apresentação no metrô:


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