domingo, 16 de fevereiro de 2014

Insights do Padre Antônio Vieira

Quero repartir alguns pensamentos do Padre Antônio Vieira, um dos
meus pensadores prediletos. Sua argúcia, seus insights nas Escrituras
e sua afiadíssima pena me fascinam.

“Trouxeram um cego a Cristo, para que o curasse; pôs-lhe o Senhor
as mãos nos olhos e perguntou-lhe se via? Respondeu Video homines
velut arbores ambulantes: que via andar os homens como árvores.
Pergunto: e quando estava este homem mais cego, agora, ou antes?
Agora, não há dúvida, que tinha alguma vista, mas esta vista era
maior cegueira, que a que dantes tinha: porque dantes não via nada,
agora via uma cousa por outra, homens por árvores; e maior
cegueira é ver uma cousa por outra, que não ver nada. Não ver nada
é privação; ver uma cousa por outra é erro. Eis aqui por nunca
acabamos de nos conhecer. Porque olhamos para nós com os olhos
de um mais cego que os cegos, com uns olhos que sempre vêem uma
cousa por outra, e as pequenas lhes parecem grandes. Somos pouco
maiores que as ervas e fingimo-nos tão grandes como as árvores;
somos a cousa mais inconstante do mundo, e cuidamos que temos
raízes; se o inverno nos tirou as folhas, imaginamos que no-las há de
tornar a dar o verão; que sempre havemos de florescer, que
havemos de durar para sempre. Isto somos e isto cuidamos”.

“Quando Deus quis converter aquele tão desvanecido rei
Nabucodonosor, para que se descesse de seus soberbíssimos
pensamentos e conhecesse o que era, o primeiro passo por onde o
encaminhou à penitência, foi transformá-lo em bruto. Sobre o modo
desta transformação há variedade de pareceres entre os doutores:
uns dizem que foi imaginária, outros que foi verdadeira; e posto que
este segundo modo é mais conforme ao Texto, de ambos podia ser.
Se foi transformação imaginária, voltou Nabucodonosor os olhos para
dentro de si mesmo, e viu tão vivamente o que era, que desde aquele
ponto se não teve mais por homem, senão por bruto, e como tal se
tratava. Se foi transformação verdadeira, converter Deus em bruto a
Nabucodonosor, não foi outra cousa que virá-lo de dentro para fora,
para que mostrasse por fora na figura, o que era por dentro na vida.
Oh quão outro se imaginava este grande rei antes do que agora se
via! Dantes não se contentava em ser homem, e imaginava-se Deus:
agora conhecia que era muito menos que homem, porque se via
bruto entre os brutos. Se voltarmos os olhos para dentro de nós, ou se Deus nos virara a nós mesmos de dentro para fora, que diferente
conceito havia de fazer cada um de si, que agora fazemos!“.


Pr. Ricardo Gondim Rodrigues

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