terça-feira, 26 de novembro de 2013

Crônica - Os cem anos do afago materno dos mais pobres

“A maior de todas as doenças atuais, é o sentimento que a pessoa tem de ser indesejada, de estar abandonada e relegada ao esquecimento por todos. O maior de todos os males é a falta de amor e a terrível indiferença para com o nosso semelhante.”

Essa citação, tão atual, foi dita há mais de sessenta anos por uma pequena albanesa, de nome difícil, chamada Agnes Gonxha Bojaxhiu, que nasceu em Skoplje, em 26 de agosto de 1910.

Desde muito pequena, Agnes demonstrou interesse pela vida religiosa e com apenas dezoito anos mudou-se para a Irlanda, tornando-se cidadã do mundo e iniciando seu trabalho religioso como missionária. No entanto, seu grande sonho era outro, a Índia e o trabalho voluntário junto aos mais humildes.

Após poucos meses de estadia na Irlanda, partiu para a Índia. Tomou o nome de Teresa e iniciou suas atividades como professora de geografia em um colégio religioso em Calcutá. Embora cercada de meninas, filhas das melhores famílias de Calcutá, impressionava-se com o que via quando saía à rua: os bairros de lata com cheiros nauseabundos, crianças, mulheres e velhos famélicos. Decidiu deixar o colégio e dedicar sua vida aos mais pobres dos pobres. Aqueles que todas as noites morriam pelas ruas e na manhã seguinte eram lançados para o carro da limpeza pública como se fossem lixo. Ela jamais conseguiu habituar-se a esse terrível espetáculo de pessoas esqueléticas morrendo de fome ou pedindo esmolas pelas ruas.

Iniciou um curso de enfermagem, que julgava de imensa utilidade para sua nova atividade. Junto com o alfabeto, dava lições de higiene e moral. O início foi duríssimo e ela sentiu a angústia terrível da solidão e das enormes dificuldades materiais. Um dia, dava voltas e mais voltas, à procura de uma casa, um teto para acolher os abandonados. Caminhou ininterruptamente, até que já não podia mais. Então, compreendeu até que ponto de esgotamento tem que chegar os verdadeiros pobres, em busca de um pouco de alimento, água, abrigo, remédio ou esperança. Naquele momento, a lembrança da tranqüilidade material de que gozava no convento, lhe veio à mente, porém, jurou não voltar atrás.

E jamais voltou.

Sua vida eram os pobres. Aqueles de quem as pessoas já não querem aproximar-se com medo do contágio, porque estão cobertos de micróbios e vermes. Aqueles que não vão rezar, porque não podem sair nus de casa, que já não comem, porque não têm força para comer, que se deixam cair pelas ruas, conscientes de que vão morrer e ao lado dos quais, os vivos passam, sem lhes prestar atenção, que já não choram, porque se lhes esgotaram as lágrimas.

Certa vez, percorrendo as ruas e prestando ajuda aos mais necessitados, ela se depara com um espetáculo horripilante: uma mulher agonizava no meio de escombros, roída pelos ratos e formigas. Madre Teresa aproxima-se e ouve um queixume, em voz muito tênue dizendo, ter sido o próprio filho a lançá-la ali. Recolheu-a e levou-a ao hospital mais próximo. Quando os atendentes vêem aquele semicadáver, respondem que não podem aceitar aquela mulher. Com a insistência a aceitam, porém, a mulher morre pouco depois. De regresso a casa, pensa nos moribundos como aquela mulher, que todos os dias morrem pelas ruas de Calcutá sem ninguém a lhes prestar assistência e cria assim a “Casa do Moribundo”, a qual dedicou, impecavelmente, suas melhores energias físicas e espirituais.

É nesta nova realidade que Madre Teresa coleciona histórias e exemplos de vida, que alimentam sua alma e lhe dão força para que não desista frente aos enormes obstáculos.

Certa noite, em sua ronda de caridade e auxílio socorreu quatro pessoas, que foram levadas a “Casa do Moribundo”, uma delas estava em péssimas condições. Solicitou que suas auxiliares cuidassem das outras três e dedicou-se pessoalmente a que estava em piores condições. Fez tudo o que estava ao seu alcance e ao colocá-la na cama, havia um lindo sorriso em seu rosto. Ela segurou a mão de Madre Teresa e disse apenas uma palavra: “Obrigada!”, e então morreu. Sem se revoltar ou tentar atrair um pouco de atenção, dizendo: “estou com fome, vou morrer; estou com frio e sinto muita dor”. Ela deu à Madre Teresa muito mais do que ela podia imaginar em uma situação como aquela, deu-lhe seu amor agradecido e morreu com um sorriso nos lábios.

Em outra ocasião, socorreu um homem que foi pego no esgoto, parcialmente comido por vermes. Depois de levado a “Casa do Moribundo”, disse apenas: “Tenho vivido na rua como um animal, mas vou morrer como um anjo, amando e recebendo atenção”. Então, depois de removerem todos os vermes do seu corpo, com um grande sorriso tudo o que disse foi: “Irmã, vou para casa estar com Deus”, e morreu.

Para Madre Teresa este sempre foi o seu maior tesouro, poder conviver com a grandeza de pessoas tão sofridas, que jamais culpavam alguém por suas chagas e sofrimentos. Como anjos - essa é a grandeza das pessoas espiritualmente ricas, embora materialmente pobres.

Madre Teresa não foi um exemplo apenas para Calcutá, para a Índia ou para a ONG “Projetos sociais meu sonho não tem fim”, ela foi um exemplo para toda a humanidade. Seu trabalho ia muito além da assistência social, era um trabalho de contemplação diante do coração do mundo, uma fonte viva de amor em um mundo repleto de ódio e miséria, mostrando a todos nós que não importa o quanto fazemos, mas, quanto amor colocamos naquilo que fazemos.


Alex Cardoso de Melo
ONG “Projetos sociais meu sonho não tem fim”

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