segunda-feira, 7 de abril de 2014

Uma história de vida

Meu cunhado abriu a última gaveta  da cômoda e  retirou um
pacote embrulhado com papel de seda."Isto", ele disse, "não
é combinação. Isto é uma lingerie".

Ele desembrulhou  e entregou-me  a peça. Era linda, de seda,
feita à mão e bordada com rendas. A etiqueta de preço ainda
estava afixada na peça.

Disse ainda: "Jan comprou-a na primeira vez que estivemos
em New York, há uns 8 ou 9 anos atrás. Ela nunca usou. Ela
estava guardando-a  para uma  ocasião especial. Bem, acho
que agora é a ocasião".

Ele  pegou a  peça das  minhas mãos  e colocou-a  na cama
junto com as outras roupas que  separamos  para levar  à
funerária. Ele  acariciou a peça por um momento, bateu a
gaveta, virou-se para mim e disse: "Nunca guarde nada para
uma ocasião especial. Todo dia é uma ocasião especial".

Fiquei  relembrando  aquelas  palavras  durante  o  funeral
e os dias que se seguiram, quando os ajudei, ele e a minha
sobrinha, a superar a tristeza que segue uma morte inesperada.
 Fiquei pensando neles durante o vôo de volta para
a Califórnia.

Pensei  em todas  as coisas que a  minha irmã  não pode  ver,
ouvir  ou fazer. Pensei nas coisas que ela fez sem perceber
como elas foram  especiais. Ainda continuo pensando nas palavras
dele, elas mudaram a minha vida.

Estou lendo mais e espanando menos. Fico sentada na cadeira admirando
a vista do jardim sem a neura de ficar arrancando as ervas daninhas.

Estou gastando mais tempo com a minha família e amigos e menos
tempo em reuniões de comitês.

Sempre que possível,a vida deveria ser uma experiência a ser
saboreada, e não uma prova.

Estou tentando reconhecer esses momentos e usufruí-los. Não estou
"guardando" nada; usamos  todas as nossas porcelanas chinesas e os
cristais para todos os eventos especiais  como  perder  alguns
quilos, consertar um vazamento da pia, para a primeira florada das
camélias. Visto o meu "blazer" preferido para ir ao mercado quando
sinto vontade.

Minha teoria é: se sinto que está sobrando dinheiro, gasto $28,49
em um pequeno pacote de guloseimas sem pestanejar. Não estou guardando
o meu melhor perfume para festas especiais;  os caixas em lojas e
atendentes em bancos tem narizes que funcionam tão bem quanto os dos
meus amigos de festas.

"Algum dia" e "um dia desses" estão perdendo a importância no meu
vocabulário. Se for útil ver,ouvir e fazer,quero ver,ouvir e fazer agora.

Não  sei o que  a minha irmã  teria feito se soubesse que estaria aqui
para o amanhã a que a todos nós foi permitido. Acho  que ela teria
ligado para todos da família e alguns  amigos íntimos. Poderia  ter
ligado para antigos amigos para se desculpar e reparar brigas do passado
sem importância. Penso que ela teria ido jantar em um restaurante chinês,
sua comida preferida.

Estou supondo...nunca saberei...

São  essas pequenas  coisas  deixadas  sem fazer  que me  deixariam
brava se soubesse que  meu tempo  seria limitado.  Brava por ter,
algum dia, cancelado encontros com bons amigos. Brava por não ter
escrito cartas que pretendia ter escrito. Brava e  arrependida por
não ter dito mais freqüentemente ao meu marido e à minha filha o
quanto eu realmente os amo.

Estou  tentando  muito  não  adiar,  impedir  ou  guardar  alguma
coisa  que proporcione alegria e brilho às nossas vidas. E  toda
manhã, quando abro os olhos, digo a mim mesma que isso é especial.
Todo dia, todo minuto, tudo suspiro é realmente...
um presente dos céus.

Autora: Ann Well, do Los Angeles Times.

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