" O trabalho é o esforço aplicado; é qualquer coisa a que nos dedicamos, qualquer coisa em que gastamos energia para conquistar ou adquirir algo. O sentido fundamental do trabalho não é aquilo por que lutamos para viver, mas o que fazemos com nossa vida."
William J. Bennett ( O livro das virtudes )
Em 1994 em Berlim, foi realizado um ciclo de palestras chamado "Trabalho e Vida", promovido pela Universidade de Berlim que teve como pergunta e reflexão principal o seguinte:
"Em que consiste o caráter demente do trabalho nos nossos tempos?"
Duas afirmações resumiram as várias respostas encontradas naquela ocasião.
1. O trabalho apresenta uma tendência a ser desmedido;
2. A vida apresenta uma tendência para se transformar em alguma coisa desamparada, em algo que carece de ajuda.
Temos então a sensação que o trabalho, a atividade remunerada, acabou se apoderando da própria vitalidade da vida.
Como o trabalho pode interferir na organização dos processos sociais, na própria vida?
Trabalhamos para viver ou vivemos para trabalhar?
Dietmar Kamper pode nos dar um referencial histórico das avaliações que as várias culturas do passado fizeram do trabalho.
"A tradição grega e a tradição judaico cristã entram em consenso inequívoco quando atribuem ao trabalho a função de pena, pena esta que os homens precisam suportar por terem se comportado de modo desmedido, por terem transgredido as leis."
Dentro deste contexto temos o mito de Prometeu, que rouba o fogo dos deuses e, em represália, Zeus condena os homens a passar a vida em meio ao trabalho.
Fomos expulsos do Paraíso, onde tínhamos tudo o que precisávamos. Comemos o fruto do conhecimento e fomos amaldiçoados com a seguinte frase:
"no suor do teu trabalho deverás ganhar o teu pão".
Num primeiro momento, temos o trabalho concebido como uma maldição; aos pouco a natureza do trabalho acaba assumindo uma outra cara, um outro rosto, e o trabalho transforma-se em algo como um talento.
"... Aos poucos, no decorrer da história o trabalho acaba mudando de natureza e acaba se transformando numa espécie de sacrifício voluntário, onde espera-se que os homens transformem o que originalmente foi um castigo, em uma maneira correta de pensar, em algo positivo".
E no início do séc. 19, há uma nova idéia que acaba tendo uma importância cada vez maior, sobretudo na filosofia de Nietzsche, e essa está relacionada à concepção dos homens produzindo a si mesmos, nascendo a partir de si mesmos, graças ao trabalho. Alguns historiadores e filósofos apregoaram que o trabalho traz a liberdade aos homens, possibilitando o nascimento do homem.
Talvez agora pudéssemos perguntar, o quanto esta transformação de identidade do trabalho foi bem sucedida?
Ou melhor, em qual das três fases da história do trabalho, você pode encaixar a sua "atividade remunerada " , neste momento atual de vida.
Júlio Lobos, na introdução de um de seus livros diz que o volume de dados e coisas que acontecem hoje no mundo organizacional é inversamente proporcional ao tempo que temos para conhecê-las, quanto mais para digeri-las.
Estamos sem tempo para refletir, descansar, organizar, aprender e, consequentemente, para muitas pessoas do meio organizacional, isto acaba causando o fenômeno do estresse, diagnosticado por falta de interesse, desmotivação, desqualificação e insensibilidade.
Talvez seja oportuno, neste momento de grandes mudanças e transformações, que você arranje tempo para refletir, ou comece a criar alguns crivos para essas quantidades enormes de informações que às vezes não lhe diz respeito, servem só para causar mais pânico e embaraço no seu trabalho.
Lembro-me de uma história que pode ilustrar esta idéia.
Os três Crivos
Certa feita, um homem esbaforido achegou-se a Sócrates e sussurrou-lhes aos ouvidos:
• Escuta, na condição de teu amigo, tenho alguma coisa muito grave para dizer-te, em particular...
Espera!... ajuntou o sábio prudente. Já passaste o que me vais dizer pelos três crivos?
Três crivos? Perguntou o visitante, espantado
• Sim, meu caro amigo, três crivos. Observemos se tua confidência passou por eles.
O primeiro é o crivo da verdade. Guardas absoluta certeza, quanto aquilo que pretendes comunicar?
• Bem, ponderou o interlocutor. Assegurar mesmo não posso...mas ouvi dizer...e então...
• Exato. Decerto peneiraste o assunto pelo segundo crivo, o da bondade. Ainda que não seja real o que julga saber, será pelo menos bom o que me queres contar?
Hesitando, o homem replicou:
• Isso não...Muito pelo contrário...
• Ah! - tornou o sábio - então recorramos ao terceiro crivo, o da utilidade, e notemos o proveito do que tanto te aflige.
• Útil?! – aduziu o visitante agitado- Útil não é...
• Bem – rematou o filósofo num sorriso, - se o que tens a confiar não é verdadeiro, nem bom e nem útil, esqueçamos o problema e não te preocupes com ele, já que nada valem casos sem edificação para nós...
Podemos fazer uma pequena reflexão:
As expectativas do mercado e do mundo estão ameaçando e preocupando ou, satisfazendo e libertando as pessoas?
Frases como:
"O japonês do outro lado do mundo pode roubar o seu emprego".
"Se você agora não souber computação e inglês, em pouco tempo será um analfabeto".
"Não saia de férias, pois podem perceber que você não faz falta".
Estas frases podem ser verdades. A questão é se isto realmente serve para você agora, neste momento.
É claro que temos que aprender inglês. Mas não de maneira assustadora e inquisitiva.
Aliás, muitas pessoas da área de Recurso Humanos conhecem muito pouco sobre o "Ser Humano" e sua essência. Na verdade estão muito pouco interessados nas pessoas, pois qualquer um com um pouco mais de sensibilidade e interesse real sabe que você motiva duas vezes mais uma pessoa através da liberdade e oportunidade do que pela necessidade e opressão.
As pessoas só se mantém num trabalho fastidioso porque não conhecem um líder melhor, uma empresa melhor ou porque não se sentem capacitadas, sem força interna, ou inseguras para sair desta situação.
E qual o problema ou conseqüência disto?
Se tornam mau funcionários, desmotivados, cansados, dependentes.
Seu trabalho acaba sendo realmente um sacrifício, uma pena.
Mas como fazer de seu trabalho um fator de crescimento, desenvolvimento e liberdade humana?
Como dizem os sábios, quando o furacão vem chegando, é melhor que vá ao encontro dele, que entre dentro dele e ache seu ponto calmo. É melhor do que fugir dele.
Em meio às grandes transformações e mudanças, talvez seja interessante que você entre nesse espaço onde a calma e o silêncio reine, reveja o que é verdadeiro, bom e útil para você, e aprenda a Ter uma visão mais ampla, diferenciada e construtiva das coisas. Trata-se de olhar e perceber os acontecimentos de forma diferente para que não os considerem tanto assustadores.
Pensando nisso, deixo informações sobre Organizações e Líderes que estão com uma visão voltada para uma Administração centrada no Ser Humano.
Numa entrevista com Anita Roddick, empresária do ano na Grã Bretanha ela afirma que "as pessoas estão querendo cada vez mais falar sobre seus sentimentos, suas emoções suas aventuras, o que tem realmente vontade de fazer. E talvez sempre estiveram abertas para que alguém as considerassem, que as fizessem sentir que não era apenas uma unidade, uma peça de reposição. A verdadeira liderança é demonstrar que gostamos das pessoas e que queremos que elas se desenvolvam".
Por que será que alguns empresários se preocupam com o meio ambiente, com a qualidade de vida de seus funcionários, com sua motivação e bem estar?
Onde aprenderam isto? Na Faculdade? Estamos aprendendo a sermos melhores profissionais?
A minha resposta é Não!
Estamos aprendendo a sermos melhores pessoas, mais sábias, inteligentes, menos carentes, mais autênticas e maduras.
Estamos tentando ter mais consideração, dignidade, honra, mais respeito e mais liberdade.
E não só intelectualmente, mas na prática, aplicando esta Sabedoria.
Um outro bom exemplo é o de uma empresa na Suécia, Estocolmo, denominada Skaltek.
Como conseguir que os funcionários de uma empresa se identifiquem com a qualidade dos produtos que fabricam?
Conseguir que elas digam:
"Eu criei isto, é minha responsabilidade.
Oystein Skalleberg, fundador da Skaltek explica:
" Em primeiro lugar a colaboração é uma questão de escolha. Ela é feita porque uma ou duas pessoas se juntaram e acreditam uma nas outras.
Cada pessoa é um Leonardo da Vinci. O único problema é que ela não sabe disso. Seus pais não sabiam disso e não a criaram como se fossem um Leonardo da Vinci
Em seu trabalho as pessoas não tem sensibilidade para perceber que ele é um Leonardo, e não consideram assim .E por isso acabaram não se transformado em Leonardo. Essa é a filosofia básica.
Muitas não estão conscientes que o produto que fabricam mostram o que são. O produto é o resultado da própria pessoa, dos seus pensamentos, ambições e necessidades.
Nesta empresa não temos Controle de Qualidade. Construímos tudo na base do controle individual. Podemos dizer que temos um controlador de qualidade em cada pessoa que trabalha 8horas por dia.
Em cada uma das máquinas colocamos a marca da equipe com o nome do projetista mecânico, do projetista elétrico, do montador e isso é uma linha direta do cliente com a pessoa que fabricou o equipamento.
Os funcionários trabalham melhor quando sabem que são responsáveis porque sabem que a confiança é o resultado".
Há algo profundamente relacionado entre o ser humano e seu trabalho; o prazer.
O prazer rompe o ritmo alucinado do tempo e do trabalho, recorrendo aos ritmos mais antigos, aos ritmos genuínos de que uma vida necessita, como o pulsar de um coração. E o coração é o músculo mais forte que existe. Por exemplo, você pode fazer cem flexões de braço, mil abdominais, mas o coração pode bater de 70 a 80 mil vezes numa vida, e jamais se cansa, pois em seu trabalho existe o perfeito equilíbrio e interação entre sístole e diástole, contração e expansão.
Um músculo sábio, que trabalha se divertindo e se diverte trabalhando.
Eduardo Carmello
Adorei o texto, é muito bom refletir a respeito do trabalho. No entanto, nem todos nós temos uma situação de trabalho tão boa como as das empresas mencionadas no artigo. Por isso, penso que precisamos fazer um esforço extra para amarmos nossa atividade, mesmo quando o ambiente não favorece esse amor.
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