Na comunidade espiritual dirigida por G.I.Gurdjieff na França, vivia um homem idoso que era a personificação do estorvo: irritadiço, bagunceiro, briguento, pouco asseado, incapaz de colaborar com os demais. Ninguém se dava com ele. Finalmente, após muitos meses frustrantes tentando permanecer com o grupo, o homem foi embora para Paris.
Gurdjieff foi atrás dele para tentar convencê-lo a retornar. Mas a experiência tinha sido árdua demais, e o homem se recusou. Gurdjieff, porém, insistiu e chegou a oferecer-lhe um estipêndio mensal bastante razoável se ele voltasse.
Diante disso, como ele poderia dizer não? Ao vê-lo de volta, porém, a comunidade ficou pasma. E ao saberem que aquele homem estava sendo pago (ao passo que eles tinham que pagar, e muito, para estarem lá), todos se revoltaram. Gurdjieff reuniu-se com eles e, depois de ouvir suas reclamações, deu risada e explicou:
- Este homem é como fermento para o pão. Sem ele por perto, vocês jamais aprenderiam verdadeiramente o que é a ira, a irritabilidade, a paciência e a compaixão.
É para isso que vocês me pagam, e é para isso que eu o contratei.
Sufismo
Histórias da Alma, Histórias do Coração
Christina Feldman e Jack Kornfield
Editora Pioneira
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