Os últimos passageiros a embarcar no avião que saía de Seattle para Dallas foram uma mulher e três filhos. "Tomara que não sentem ao meu lado", pensei. "Tenho um trabalho importante a fazer". Um minuto depois, um menino de onze anos e uma menina de nove passavam por cima de mim, enquanto a mãe e um menino de quatro anos sentavam no banco atrás do meu. Imediatamente as crianças maiores começaram a reclamar do pequeno, que dava chutes intermitentes no assento. A cada dois minutos, o menino perguntava à irmã "Onde é que nós estamos agora?" "Cale a boca!", ela respondia invariavelmente, e seguiam-se choramingos e reclamações.
"As crianças não têm noção do que é trabalho", pensei, num silencioso ressentimento com a situação. Então uma voz interior, alta e clara, disse simplesmente: Ame as crianças. "Não tenho tempo para perder com esses fedelhos, tenho um trabalho importante a fazer", retruquei. A voz respondeu apenas: Ame-os como se fossem seus filhos.
Ouvindo pela enésima vez "Onde-é-que-nós-estamos-agora?", deixei o trabalho de lado e peguei o mapa de vôos da companhia, encartado na revista de bordo.
Expliquei detalhadamente nossa rota, dividindo os trechos em quartos de hora, e fiz uma estimativa da hora de chegada em Dallas.
Logo eles estavam me contando sobre a viagem a Seattle, para visitar o pai que estava no hospital. De conversa em conversa, eles perguntavam sobre aviação, navegação, tecnologia e pontos de vista dos adultos sobre a vida. O tempo passou rapidamente e meu trabalho "importante" não foi feito.
Pouco antes da aterrissagem, perguntei o que o pai deles fazia em Seattle. Ficaram em silêncio. Depois de uma pausa, o menino disse apenas:
- Ele morreu.
- Oh, sinto muito.
- É, eu também. Mas estou mais preocupado com meu irmãozinho. Está muito difícil para ele.
De repente me dei conta do que era o trabalho mais importante a fazer: viver, amar e crescer, apesar da dor. Quando nos despedimos em Dallas, o menino apertou minha mão e agradeceu por ter sido seu "professor de bordo". E eu agradeci por ele ter sido o meu.
Dan S. Bagley
Do livro:Você não está só
Jack Canfield, Mark Victor Hansen e Barry Spilchuk - Editora Ediouro
Nenhum comentário:
Postar um comentário