terça-feira, 31 de julho de 2012

O Leão e o Rato


Um Leão foi acordado por um Rato que passou correndo sobre seu rosto. Com um salto ágil ele o capturou e estava pronto para matá-lo, quando o Rato suplicou: "Se o senhor poupasse minha vida, tenho certeza que poderia um dia retribuir sua bondade."

O Leão deu uma gargalhada de desprêzo e o soltou.

Aconteceu que pouco depois disso o Leão foi capturado por caçadores, que o amarraram com fortes cordas no chão.

O Rato, reconhecendo seu rugido, se aproximou, roeu as cordas, e libertou-o dizendo: "O senhor achou ridícula a idéia de que eu seria capaz de ajudá-lo, nunca esperava receber de mim qualquer compensação pelo seu favor; mas agora sabe que é possivel mesmo a um Rato conceber um favor a um poderoso Leão."

Pequenos amigos podem se revelar grandes aliados!

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A Medalha


Quando menino, ganhei uma medalha na escola como prêmio ao aluno que sabia ler melhor.
Senti-me feliz e estufei de orgulho. Quando a aula terminou voltei para casa correndo entrei na cozinha como um furacão.
A velha empregada, que estava conosco havia muitos anos, ocupava-se no fogão. Sem nada comentar fui direto a ela, dizendo-lhe:
- Aposto que sei ler melhor do que você.
E estendi-lhe o meu livro de leitura. Ela interrompeu o seu trabalho e tomou o volume.
Examinando cuidadosamente as páginas, terminou por gaguejar:
- Bem, meu filho...eu...eu não sei ler.

Fiquei atônito. Sabia que papai estava em seu escritório naquela hora e voei para lá. Ele ergueu a cabeça quando eu entrei, suando, com o rosto em fogo e lhe disse:
- Imagine, papai, a Maria não sabe ler. E é uma velha. Eu, que ainda sou pequeno, já ganhei até medalha. Olhe só! (Eu estufei o peito para frente para que ele visse o meu troféu,e comentei):

- Deve ser horrível não saber ler, não é, papai?

Com toda a tranqüilidade, meu pai ergueu-se, foi até uma estante e voltou de lá com um livro.
- Leia este livro para eu ver, meu filho. Foi maravilhoso você ter ganho a medalha. Leia para eu ouvir.

Não titubeei, abri o volume e olhei para o meu pai cheio de surpresa. As páginas continham o que pareciam ser centenas de pequenos rabiscos.
- Não posso, papai. Eu não entendo nada disto que está aqui.
- É um livro escrito em chinês,meu filho...

Imediatamente me lembrei do que fizera a Maria e me senti envergonhado. Papai não disse mais nada e eu, pensativo, deixei o livro em sua escrivaninha e saí.

Até agora, toda vez que me sinto tentado a gabar-me por qualquer coisa que tenha feito, lembro-me do quanto ainda me falta aprender e digo de mim para comigo:
- Não se esqueça de que você não sabe ler chinês!

domingo, 29 de julho de 2012

Funciona?


O Mosteiro da Lua Nova não tem portões – disse Shantih certa vez a um conviva.

- Mas como eles mantêm longe os ladrões?

- Não há nada para roubar num mosteiro – respondeu Shantih. – Tudo o que verdadeiramente tiver valor é dado.

- Mas e os desordeiros? E as pessoas incômodas? Como os monges as mantêm afastadas? – perguntou o conviva.

- Os monges as ignoram.

- E isso funciona?

Shantih tapou os ouvidos, fechou os olhos e recusou-lhe a responder. Por fim, desgostoso, seu conviva foi embora.

- Funciona – disse Shantih, chamando-o de volta.

Histórias da Alma, Histórias do Coração - Editora Pioneira

sábado, 28 de julho de 2012

O Caso das Laranjas


Um gerente foi procurado por um funcionário, que veio reclamar que um colega havia tido um aumento salarial e ele não, o que considerava injusto.

Sem entrar no mérito do caso, o gerente pediu a este funcionário:

- Você está vendo aquele caminhão que está vendendo laranjas, lá no outro lado da rua? Vá, por favor, ver o preço das laranjas.

Meio sem entender o pedido do gerente, foi e logo voltou dizendo:

- O preço de uma dúzia de laranjas é R$1,00.

O gerente perguntou:

- E se eu comprar 10 dúzias, será que o preço é o mesmo? Você pode verificar?

Sem saber responder, lá foi o funcionário perguntar de novo, e logo voltou.

- Ele disse que se você comprar 10 dúzias, ele faz o preço de R$0,80 a dúzia.

- Eu estou realmente interessado nestas laranjas! E se eu comprar o caminhão inteiro, a que preço ele fará a dúzia?

Já com cara meio aborrecida, mais uma vez ele foi perguntar e voltou dizendo:

- Se você comprar o caminhão todo, ele vende a dúzia a R$0,55.

Agradecendo ao funcionário pediu para que ficasse ali e solicitou que o colega que havia tido o aumento fosse chamado à sua sala. Sorridente, ele logo entrou, e o gerente fez exatamente a mesma pergunta:

- Você está vendo aquele caminhão que está vendendo laranjas, lá no outro lado da rua? Vá, por favor, ver o preço das laranjas.

Rapidamente ele saiu e logo voltou com um saco de uma dúzia de laranjas debaixo do braço, e muito animado foi logo dizendo:

- O preço de uma dúzia é R$1,00. No entanto, se você comprar 10 dúzias ou mais, ele pode dar um desconto e vender a R$0,80 a dúzia. Mas se você quiser comprar o caminhão inteiro o preço é de R$0,55 a dúzia. Aí eu disse ao vendedor que o meu gerente estava interessado no preço das laranjas, e ele me deu esta dúzia como uma amostra, para você poder avaliar a sua qualidade.

O gerente agradeceu. O funcionário deixou a dúzia de laranjas na mesa e saiu.

Um silêncio se fez e o gerente nada teve a dizer, pois o funcionário que entrou reclamando, saiu tendo aprendido uma importante lição.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O que é Virtual?


Entrei apressado e com muita fome no restaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, pois queria aproveitar os poucos minutos de que dispunha naquele dia atribulado para comer e consertar alguns bugs de programação de um sistema que estava desenvolvendo, além de planejar minha viagem de férias, que há tempos não sei o que são.

Pedi um filé de salmão com alcaparras na manteiga, uma salada e um suco de laranja, pois afinal de contas fome é fome, mas regime é regime, né?

Abri meu notebook e levei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:

— Tio, dá um trocado?

— Não tenho, menino.

— Só uma moedinha para comprar um pão.

— Está bem, compro um para você.

Para variar, minha caixa de entrada estava lotada de e-mails. Fico distraído vendo poesias, as formatações lindas, dando risadas com as piadas malucas. Ah! Essa música me leva a Londres e a boas lembranças de tempos idos.

— Tio, pede para colocar margarina e queijo também?

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O Quadro


Um homem havia pintado um lindo quadro.
No dia de apresentá-lo ao público, convidou todo mundo para vê-lo.
Compareceram as autoridades locais, fotógrafos, jornalistas, e muita gente, pois o pintor era muito famoso e um grande artista.
Chegado o momento, o pano que encobria o quadro foi retirado.
Houveram calorosos aplausos.
Era uma impressionante figura de Jesus batendo suavemente à porta de uma casa.
O Cristo parecia vivo.
Com o ouvido junto à porta, Ele parecia querer ouvir se lá dentro alguém respondia.
Houveram discursos e elogios.
Todos admiravam aquela obra de arte.
Um observador curioso porém, achou uma falha no quadro: a porta não tinha fechadura.
E foi perguntar ao artista :
- Sua porta não tem fechadura ! Como se fará para abri-la ?
- É assim mesmo, respondeu o pintor, esta é a porta do coração humano. Só se abre do lado de dentro.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Sapato


Um dia um homem já de certa idade abordou um ônibus. Enquanto subia, um de seus sapatos escorregou para o lado de fora. A porta se fechou e o ônibus saiu; então ficou impossível recuperá-lo.
O homem tranqüilamente retirou seu outro sapato e jogou-o pela janela.

Um rapaz no ônibus, vendo o que aconteceu e não podendo ajudar ao homem, perguntou:
- Notei o que o senhor fez. Por que jogou fora seu outro sapato?

O homem prontamente respondeu
- De forma que quem o encontrar seja capaz de usá-los. Provavelmente apenas alguém necessitado dará importância a um sapato usado encontrado na rua. E de nada lhe adiantará apenas um pé de sapato.

O homem mostrou ao jovem que não vale a pena agarrar-se a algo simplesmente para possuí-lo e nem porque você não deseja que outro o tenha.

Perdemos coisas o tempo todo. A perda pode nos parecer penosa e injusta inicialmente, mas a perda só acontece de modo que mudanças, na maioria das vezes positivas, possam ocorrer em nossa vida.

Acumular posses não nos faz melhores e nem faz o mundo melhor. Todos temos que decidir constantemente se algumas coisas devem manter seu curso em nossa vida ou se estariam melhor com outros.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Vovó Ruby


Sendo mãe de dois meninos muito ativos, de um e sete anos de idade, às vezes me preocupo que eles transformem minha casa cuidadosamente decorada em seu canteiro de demolição. Em meio a sua inocência e às suas brincadeiras, de vez em quando derrubam meu abajur favorito ou desarrumam meus arranjos bem planejados. Nesses momentos, quando nada parece sagrado, lembro-me da lição que aprendi com minha sábia sogra, Ruby.

Ruby é mãe de seis e avó de treze. É a encarnação da gentileza, da paciência e do amor.

Num Natal, todos os filhos e netos estavam reunidos, como de costume, na casa de Ruby. Apenas um mês antes Ruby havia comprado um lindo carpete branco, depois de viver com o mesmo carpete durante vinte e cinco anos. Ficara felicíssima com o jeito novo que ele dava à casa.

Meu cunhado, Arnie, tinha acabado de distribuir seus presentes entre todas as sobrinhas e sobrinhos - mel natural premiado de seu apiário. Eles estavam super animados. Mas quis o destino que a pequena Sheena de oito anos de idade derramasse seu pote de mel no carpete novo da vovó fazendo uma trilha escada abaixo por toda a casa.

Chorando, Sheena correu para a cozinha e para os braços da Vovó Ruby.

- Vovó, eu derramei todo o meu mel em cima do seu carpete novo.

Vovó Ruby ajoelhou-se, olhou carinhosamente nos olhos chorosos de Sheena e disse:

- Não se preocupe, querida, podemos lhe arrumar mais mel.

Lynn Robertson
Livro: Histórias para Aquecer o Coração 2
Autor: Jack Canfield e Mark Victor Hansen
Editora: Sextante

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Acordar


Você sabe o que significa a palavra "acordar"?
Vamos fazer uma brincadeira e separar em sílabas da palavra acordar:
A-cor-dar. Viu?
Significa dar a cor, colocar o coração em tudo que faz.
Existem pessoas que acordam às 6h da tarde. É isso mesmo!
Pela manhã caem da cama, são jogadas da cama, mas passam o dia todo dormindo.
E existem alguns, acredite, que passam a vida toda e não conseguem acordar.
Eu tive um amigo que acordou aos 54 anos de idade.
Ele me disse:
- Descobri que estou na profissão errada!
E ele já estava se aposentando...
Imagine o trauma que esse amigo criou para si, para os colegas de trabalho, para a sua família!
Foi infeliz durante toda sua vida profissional porque simplesmente não "acordou".
Eu, na época, era muito jovem, mas compreendi bem o que ele estava me ensinando naquele momento.
Por mais cinzento que possa estar sendo o dia de hoje, ele tem exatamente a cor que dou a ele.
Sabe por quê?
Por que a vida tem a cor que "a gente pinta".
O engraçado é que os dias são todos exclusivos.
Cada dia é um novo dia, ninguém o viveu.
Ele está ali, esperando que eu e você façamos com que ele seja o melhor da nossa vida.
Os meus dias são os mais lindos da face da Terra porque eu os faço ser os mais lindos da face da Terra.
Acredite em você!
O universo é o limite!
Dê a você a oportunidade de "a-cor-dar" todos os dias e compartilhar com os outros o que Deus nos dá de melhor:
o privilégio de ser e fazer os outros felizes.

domingo, 22 de julho de 2012

O que é um sábio?


O abade Abraão soube que perto do mosteiro de Sceta havia um sábio. Foi procurá-lo e perguntou:

"Se hoje você encontrasse uma bela mulher em sua cama, conseguiria pensar que não era uma mulher?"

"Não", respondeu o eremita. "Mas conseguiria me controlar".

O abade continuou:

"E se descobrisse moedas de ouro no deserto, conseguiria ver este ouro como se fossem pedras?"

"Não. Mas conseguiria me controlar para deixá-lo onde estavam".

"E se você fosse procurado por dois irmãos, um que o odeia, e outro que o ama, conseguiria achar que os dois são iguais?"

Com tranqüilidade, ele respondeu:

"Mesmo sofrendo, eu trataria o que me ama da mesma maneira que o que me odeia".

Naquela noite, ao voltar para o mosteiro de Sceta, Abraão falou aos seus noviços:

"Vou lhes explicar o que é um sábio. É aquele que, em vez de matar as suas paixões, consegue controlá-las".

sábado, 21 de julho de 2012

O Ladrão e sua Filha


Há muitos, muitos anos, um homem foi ao campo roubar trigo e levou a filha com ele para que ela o ajudasse na tarefa.
“Filha”, disse ele, “fica aqui na estrada de guarda para que ninguém me veja.”
Mas assim que o homem começou a ceifar a filha gritou-lhe:
“Pai, estão a ver-te.”
O homem levantou a cabeça e olhou para a esquerda, mas como não viu ninguém continuou a ceifar.
“Pai, estão a ver-te”, gritou a criança uma segunda vez.
O homem levantou a cabeça e olhou para a direita, como nada viu continuou a ceifar.
Passados mais uns minutos a menina gritou uma terceira vez:
“Pai, estão a ver-te”.
O homem olhou para a frente, mas não viu ninguém e continuou a ceifar.
“Pai, estão a ver-te”, gritou a filha pela quarta vez.
O homem olhou para trás e como não viu ninguém ficou irritado com a criança:
“Então filha?! Dizes que me vêem mas eu já olhei em todas as direções e não vejo ninguém.”
A filha encolheu os ombros:
“Mas pai, estão a ver-te dali”, disse ela apontando para o céu.

Conto tradicional dos judeus da Tunísia

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Atrás de todo grande homem existe uma grande mulher


Thomas Wheeler, alto executivo de uma multinacional, viajava com sua mulher por uma estrada interestadual quando notou que o carro estava com pouca gasolina. Ele parou num posto muito simples, com apenas uma bomba de combustível. pediu ao único atendente que enchesse o tanque e verificasse o óleo enquanto ele dava uma volta para esticar as pernas.

Ao retornar para o carro, percebeu que o frentista e sua mulher estavam num papo animado. mas, quando voltava para o carro, ele viu o rapaz acenar e dizer:

- Foi ótimo falar com você.

Ao sair do posto, o marido perguntou à mulher se ela conhecia o atendente. Ela imediatamente admitiu que sim. Tinham freqüentado a mesma escola e ela o namorara por cerca de um ano.

- Puxa, você teve sorte de eu ter aparecido – Wheeler se vangloriou.
- Se tivesse casado com ele, seria agora a esposa de um frentista de posto de gasolina em vez de ser esposa de um alto executivo.

- Meu querido – respondeu a mulher -, se eu tivesse me casado com ele, ele seria o alto executivo e você, o frentista do posto de gasolina.

The Best of Bits & Pieces
Histórias para Aquecer o Coração das Mulheres
Jack Canfield & Mark V. Hansen & Jennifer R. Hawthorne & Marci Shimoff - Editora Sextante

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O Benfeitor Secreto


Por volta de 1910, meu pai era motorista de um homem muito rico e testemunhou o empenho do patrão em ajudar anonimamente pessoas que jamais poderiam retribuir o favor.

Meu pai me contou várias histórias fascinantes dessa época, mas uma em especial ficou guardada para sempre na minha memória. Um dia, ele levou seu patrão a um encontro de negócios em outra cidade. Nos arredores pararam para comer um sanduíche.

Enquanto comiam, vários garotos passaram pelo carro, brincando com arcos. Um deles mancava. Chegando mais perto da janela, o patrão de meu pai viu que o garoto tinha um dos pés deformados. Ele saiu do carro e alcançou o menino.

- Este pé lhe traz muitos problemas? – perguntou.

- Tenho de andar devagar – o garoto respondeu. – E preciso cortar um pedaço do sapato para poder pisar melhor. Mas dá para ir levando. Por que o senhor está me perguntando isso?

- Talvez eu possa ajudá-lo a curar seu pé. Você gostaria?

- Claro – disse o menino, embora tenha ficado um pouco confuso com a pergunta.

O empresário anotou o nome do garoto, voltou para o carro e disse a meu pai: "Woody, o garoto que manca se chama Jimmy e tem oito anos. Descubra onde ele mora e pegue o endereço e o nome dos pais." Ele entregou a meu pai um pedaço de papel com o nome do menino e pediu: "Vá visitar a família dele esta tarde e faça o possível para conseguir permissão para deixarem operar o pé de Jimmy. Podemos tratar da papelada depois. As despesas são todas por minha conta."

Eles acabaram de comer seus sanduíches e meu pai levou o chefe para seu compromisso de trabalho.

Não foi difícil conseguir o endereço de Jimmy numa loja próxima. Quase todos conheciam o menino com o pé deformado.

A pequena casa em que Jimmy e a família moravam precisava de pintura e de consertos. Olhando à volta, meu pai viu camisas rasgadas e vestidos remendados no varal ao lado da construção. Um pneu velho pendurado por uma corda num carvalho servia de balanço.

Uma mulher de trinta e poucos anos respondeu à batida na porta enferrujada. Parecia cansada e suas feições revelavam uma vida difícil.

- Boa-tarde – meu pai cumprimentou. – A senhora é a mãe de Jimmy?

Ela franziu um pouco as sobrancelhas antes de responder.

- Sou. Ele se meteu em alguma encrenca? – Seus olhos examinavam o colarinho engomado de meu pai e seu terno bem passado.

- Não, senhora. Eu represento um homem rico que quer resolver o problema do pé de seu filho, para que ele possa brincar como todos os seus amigos.

- A troco de quê, moço? Nada é de graça na nessa vida.

- Não se trata de uma brincadeira. Se for possível, gostaria de explicar o que está acontecendo à senhora e a seu marido, se ele estiver em casa. Sei que é inesperado e não a culpo por achar suspeito.

Ela olhou para meu pai novamente e, ainda hesitante, convidou-o a entrar. "Henry", ela gritou, "tem um homem aqui dizendo que quer ajudar a resolver o problema do pé do Jimmy."

Por quase uma hora, meu pai explicou o plano e respondeu às perguntas do casal.

- Se permitirem que Jimmy seja operado, vou lhes mandar algumas autorizações para assinar. Meu patrão pagará todas as despesas. como já lhes disse – conclui.

Perplexos, os pais do garoto se olharam. Ainda não tinham muita certeza quanto ao que estava acontecendo.

- Aqui está meu cartão. Quando enviar os papéis para autorização, vou mandar uma carta esclarecendo tudo sobre o que conversamos. Se tiverem mais alguma pergunta, telefonem ou escrevam para este endereço.

Isso pareceu lhes dar um pouco mais de confiança, e meu pai foi embora. Sua missão fora cumprida.

Mais tarde, o patrão de meu pai entrou em contato com o prefeito e lhe pediu que enviasse alguém à casa de Jimmy para reafirmar à família que a oferta era legítima. Naturalmente, o nome do benfeitor não foi mencionado.

Logo, com as autorizações assinadas, meu pai levou Jimmy a um excelente hospital em outro estado para a primeira de cinco operações a que seria submetido.

As cirurgias foram um sucesso. Jimmy se tornou o queridinho das enfermeiras na ala de ortopedia. Todos se abraçaram e choraram quando ele deixou o hospital pela última vez. Num gesto de carinho, deram-lhe um presente especial: um novo par de sapatos, feitos sob medida para seus pés "novos".

Jimmy e meu pai se tornaram grandes amigos durante as idas e vindas do hospital. Na última viagem, quando o garoto voltava definitivamente para casa, eles cantaram, falaram sobre o que Jimmy poderia fazer com seu pé normal e dividiram momentos de silêncio à medida que se aproximavam da casa.

O menino deu um largo sorriso ao sair do carro. Seus pais e os dois irmãos o esperavam, juntos, na maltratada porta da frente.

- Fiquem aí – Jimmy gritou para eles.

Todos ficaram olhando, surpresos, enquanto o garoto caminhava até eles. O defeito tinha desaparecido.

Com abraços, beijos e sorrisos receberam o menino com o "pé curado". Seus pais balançavam as cabeças e sorriam enquanto o observavam. Ainda não podiam acreditar que um homem que nunca tinham visto pagara uma enorme quantia para consertar o pé de um menino que ele nem conhecia.

O rico benfeitor tirou os óculos e enxugou as lágrimas quando meu pai relatou a cena da volta de Jimmy para casa. "Faça mais uma coisa", ele disse. "Perto do Natal, vá a uma boa loja de sapatos. Faça com que chamem cada membro da família de Jimmy para que escolham um novo par de sapatos. Pagarei pelos sapatos de todos. Mas comunique que farei isso apenas uma vez. Não quero que fiquem dependentes de mim."

Jimmy se tornou um homem de negócios bem sucedido. Que eu saiba, ele nunca soube quem pagou por suas cirurgias. Seu benfeitor, o Sr. Henry Ford, sempre disse que é mais divertido fazer algo pelas pessoas quando elas não sabem quem lhes fez o bem.

Woody McKay Jr.
Do livro de Brian Cavanaugh, The Sower Seeds

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O Cavalinho


Certa tarde o paizão saiu para um passeio com as duas filhas, uma de oito e a outra de quatro anos.
Em determinado momento da caminhada, Helena, a filha mais nova, pediu ao pai que a carregasse, pois estava muito cansada para continuar andando.
O pai respondeu que estava também muito fatigado, e diante da resposta, a garotinha começou a choramingar e fazer "corpo mole".
Sem dizer uma só palavra, o pai cortou um pequeno galho de árvore e o entregou à Helena dizendo :
- Olhe aqui um cavalinho para você montar, filha !
Ele irá ajudá-la a seguir em frente.
A menina parou de chorar e pôs-se a cavalgar o galho verde tão rápido, que chegou em casa antes dos outros.
Ficou tão encantada com seu cavalo de pau, que foi difícil fazê-la parar de galopar.
A irmã mais velha ficou intrigada com o que viu e perguntou ao pai como entender a atitude de Helena.
O pai sorriu e respondeu dizendo :
- Assim é a vida, minha filha.
As vezes a gente está física e mentalmente cansado, certo de que é impossível continuar.
Mas encontramos então um "cavalinho" qualquer que nos dá ânimo outra vez.
Esse cavalinho pode ser um bom livro, um amigo, uma canção... assim, quando você se sentir cansada ou desanimada, lembre-se de que sempre haverá um cavalinho para cada momento, e nunca se deixe levar pela preguiça ou o desânimo.
E Sorria !!!... A mais completa perda de tempo de todos os dias é aquela na qual você não sorriu nem uma vez !

terça-feira, 17 de julho de 2012

A história do 333

Estava ministrando um seminário de final de semana no Hotel Deerhust, norte de Toronto. Na noite de sexta-feira, um tornado varreu uma cidade ao norte da nossa, chamada Barrie, matando dezenas de pessoas e causando prejuízos de milhões de dólares. Na noite de sábado, voltando para casa, parei o carro quando cheguei a Barrie. Desci do carro no acostamento e olhei em volta. Estava uma confusão. Em todos os lugares para onde eu olhava havia casas destruídas e carros de cabeça para baixo.

Naquela mesma noite, Bob Templeton dirigia pela mesma estrada. Ele parou para olhar a tragédia assim como eu, só que seus pensamentos foram diferentes dos meus. Bob era vice-presidente da Telemedia Communications, dona de uma cadeia de estações de rádio em Ontário e Quebec. Ele achou que devia haver algo que pudéssemos fazer por aquelas pessoas através de suas estações de rádio.

Na noite seguinte, estava ministrando um outro seminário em Toronto. Bob Templeton e Bob Johnson, outro vice-presidente da Telemedia, entraram e ficaram de pé no fundo da sala. Ambos compartilhavam a convicção de que devia haver algo que pudessem fazer pelas pessoas em Barrie. Terminado o seminário, voltamos para o escritório de Bob. Agora ele estava comprometido com a idéia de ajudar as pessoas que haviam sido afetadas pelo tornado.

Na sexta-feira seguinte, ele chamou todos os executivos da Telemedia em seu escritório. No alto de um flipchart, ele escreveu três 3. E disse a seus executivos:

- Você gostariam de levantar 3 milhões de dólares, em apenas 3 horas, daqui a 3 dias, a contar de hoje, e dar esse dinheiro à população de Barrie?

Não houve nada além de silêncio na sala.

Finalmente, alguém disse:

- Templeton, você está louco. Não há como fazer isso.

Bob disse:

- Espere um minuto. Eu não perguntei se poderíamos ou se deveríamos. Perguntei apenas se vocês gostariam.

Todos eles disseram:

- É claro que gostaríamos.

Então ele desenhou um grande T embaixo do 333. De um lado ele escreveu "Porque não podemos". Do outro, "Como podemos".

- Vou fazer um grande X no lado do "Porque não podemos". Não vamos perder tempo com idéias de "Porque não podemos". Do outro lado vamos escrever todas as idéias que tivermos sobre "Como podemos". Não vamos sair da sala até chegar às soluções.

Houve silêncio novamente.

Finalmente, alguém disse:

Poderíamos fazer um show de rádio e transmiti-lo a todo o Canadá.

Bob disse:

- Esta é uma grande idéia – e anotou-a.

Antes que tivesse terminado de escrever, alguém disse:

- Não podemos fazer um show de rádio e transmiti-lo a todo o Canadá. Não temos estações em todo o Canadá.

Aquela foi uma objeção bastante válida. Eles tinham estações apenas em Ontário e Quebec.

Templeton replicou:

- Isso é "porque podemos". Isso fica.

Mas essa era uma objeção realmente forte, porque as estações de rádio são muito competitivas. Normalmente, elas não trabalham juntas e conseguir que o fizessem seria praticamente impossível, de acordo com os padrões estabelecidos de raciocínio.

De repente alguém sugeriu:

- Poderíamos convidar Harvey Kirk e Lloyd Roberston, os maiores nomes da radiodifusão canadense, como âncoras do show. (Isso seria como ter Tom Brokaw e Sam Donaldson ancorando o show. Eles são âncoras na televisão nacional. Eles não irão ao rádio.) Àquela altura foi absolutamente espantoso a rapidez e a fúria com que as idéias criativas começaram a fluir.

Isso foi numa sexta-feira. Na quinta-feira seguinte, cinqüenta estações de rádio do país inteiro haviam concordado em transmitir o show. Não importava de quem seriam os créditos desde que as pessoas em Barrie recebessem o dinheiro. Harvey Kirk e Lloyd Robertson ancoraram o show e conseguiram levantar 3 milhões de dólares, em três horas, dentro de um período de três dias úteis!

Veja só. Você pode fazer qualquer coisa se concentrar sua energia em "Como pode" fazer, e não em "Porque não pode".

Bob Proctor

Canja de Galinha para a Alma
Jack Canfield & Mark Victor Hansen
Ediouro

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O que é uma avó?

Carta de um aluno da terceira série

Uma avó é uma mulher velhinha que não tem filhos. Ela gosta dos filhos dos outros. Um avô é um homem-avó. Ele leva os meninos para passear e conversa com eles sobre pescaria e outros assuntos parecidos.

As avós não fazem nada e por isso podem ficar mais tempo com a gente. Como elas são velhinhas, não conseguem rolar pelo chão ou correr. Mas não faz mal, porque nos levam ao shopping e compram tudo o que nossos pais não querem comprar. Na casa delas tem sempre um vidro com balas e uma lata cheia de suspiros. Contam histórias de nosso pai ou nossa mãe quando eram pequenos, histórias da Bíblia, histórias de uns livros bem velhos com umas figuras lindas. Passeiam conosco mostrando as flores, ensinando seus nomes, nos fazendo sentir o perfume. Avós nunca dizem "Apresse-se", "Arrume seu quarto", "Coma com modos".

Normalmente, as avós são gordinhas, mas, mesmo assim, elas nos ajudam a amarrar os sapatos. Quase todas usam óculos e eu já vi uma tirando os dentes e as gengivas.

Quando a gente faz uma pergunta, a avó não diz: "Menino, não vê que eu estou ocupada!" Ela pára, pensa e responde de um jeito que a gente entende. As avós sabem de um bocado de coisas.

As avós não falam com a gente como se fôssemos umas criancinhas idiotas, nem apertam nosso queixo dizendo "Que gracinha!", como fazem algumas visitas chatas. Quando lêem para nós, não pulam pedaços das histórias nem se importam de ler a mesma história várias vezes. O colo das avós é quente e fofinho, bom de a gente sentar quando está triste. A minha avó sabe fazer uma festinha bem de leve nas minhas costas que eu adoro.

Todo mundo devia tentar ter uma avó, porque são os únicos adultos que têm tempo pra nós.

Histórias para Aquecer o Coração das Mães
Jack Canfield & Mark Victor Hansen & Jennifer R. Hawthorne & Marci Shimoff
- Sextante

domingo, 15 de julho de 2012

Como massagear um ego

Sr. Rickman, nosso professor de psicologia, não costuma passar o mesmo tipo de deveres dos outros professores, tais como ler mil páginas, responder às perguntas ao final do capítulo, solucionar os problemas de 47 a 856. Ele é bem mais criativo do que isso.

Sr. Rickman apresentou o dever de quinta-feira passada, dizendo que o comportamento é um meio de comunicação.

- Nossos atos falam mais alto do que as palavras. Esta não é uma frase vazia - ele nos disse. – O que as pessoas fazem nos diz algo sobre o que estão sentindo.

Ele fez uma pequena pausa para que absorvêssemos aquilo antes de passar o dever.

- Agora, vejam se conseguem mudar uma pessoa, massageando o ego dele ou dela o bastante para que você perceba uma mudança em seu comportamento. Relataremos os resultados na aula da semana que vem.

Quando cheguei em casa naquela tarde, minha mãe estava sentindo uma imensa pena dela mesma. Os cabelos caíam sobre o rosto, a voz mais parecia um lamento e ela ficava suspirando enquanto preparava o jantar. Nem ao menos me dirigiu a palavra quando cheguei. Como ela não falou, eu também não falei.

O jantar foi um tanto triste. Papai não estava com mais vontade de falar do que mamãe ou eu. Decidi colocar o meu dever de casa em ação.

- Mãe, sabe aquela peça que o clube de artes dramáticas da universidade está encenando? Por que você não vai com o papai hoje à noite? Ouvi dizer que é ótima.

- Esta noite não dá – disse meu pai. – Tenho uma reunião importante.

- Naturalmente –comentou mamãe. E eu compreendi o que a estava incomodando.

- Bem, então por que não vai comigo? – perguntei. Imediatamente, desejei não ter feito aquele convite. Imagine só um rapaz do segundo grau ser visto saindo à noite com a mãe!

De qualquer maneira, o convite ficou ali, pairando no ar, e mamãe perguntou, toda animada:

- Jura, Kirk?

Engoli em seco algumas vezes.

- Claro. Por que não?

- Mas rapazes não costumam sair com as mães. – Seu tom de voz foi ficando cada vez mais agradável e ela prendeu as mechas de cabelo soltos em cima da cabeça.

- Não existe nenhuma lei dizendo que a gente não pode sair com a mãe – brinquei. – Vá se arrumar. Nós vamos sair.

Mamãe carregou alguns pratos até a pia. Agora, seus passos estavam leves em vez de arrastados.

- Deixe que Kirk e eu lavamos a louça – ofereceu papai, e mamãe chegou a sorrir para ele.

- Você foi muito gentil em fazer isso – disse papai, quando mamãe deixou a cozinha. – Você é um filho muito atencioso.

"Graças á aula de psicologia", pensei, um tanto deprimido.

Mamãe voltou à cozinha parecendo cinco anos mais nova do que há uma hora.

- Você tem certeza de que não vai sair com ninguém esta noite? – insistiu ela, como se não pudesse acreditar no que estava acontecendo.

- Agora eu vou – respondi. – Vamos nessa!

A noite acabou não sendo tão desagradável assim. A maioria dos meus amigos certamente fez algo de mais empolgante naquela noite do que assistir a uma peça de teatro. Os que foram ver a mesma peça não ficaram nem um pouco surpresos de me ver com minha mãe. Ao final da noite, ela estava genuinamente feliz, e eu próprio, bastante satisfeito. Não só me dei super bem no dever de casa como também aprendi um bocado sobre como fazer alguém feliz.

Kirk Hill
Histórias para Aquecer o Coração dos Adolescentes
Jack Canfield & Mark Victor Hansen & Kimberly Kirberger - Editora Sextante

sábado, 14 de julho de 2012

A mão

Um editorial pelo Dia de Ação de Graças no jornal falava de uma professora que pediu aos alunos de sua classe de primeira série que desenhassem alguma coisa pela qual fossem gratos. Ela pensou em como estas crianças de vizinhanças pobres tinham realmente pouco pelo que agradecer. Mas sabia que a maioria delas desenharia perus ou mesas com comida. A professora ficou surpresa com o desenho que Douglas entregou...uma mão, desenhada de forma simples e infantil.

Mas mão de quem? A classe ficou encantada com a imagem abstrata. "Acho que deve ser a mão de Deus que nos dá o alimento", disse uma criança. "Um fazendeiro", disse outro, "porque cria os perus". Finalmente, quando os outros já haviam voltado ao trabalho, a professora se inclinou sobre a mesa de Douglas e perguntou de quem era a mão.

- É a sua mão, professora – murmurou ele.

Ela lembrou-se de que, várias vezes, no recreio, ela havia tomado Douglas, um garoto raquítico e desamparado, pela mão. Ela fazia isso freqüentemente com as crianças. Mas aquilo significava muito parra Douglas. Talvez essa devesse ser a Ação de Graças de todos, não pelas coisas materiais que nos são dadas, mas pela chance, de todas as pequenas formas de dar aos outros.

Canja de Galinha para a Alma
Jack Canfield & Mark Victor Hansen
Ediouro

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O mágico e a moça cega

Meu amigo Whit é mágico profissional e foi contratado por um restaurante para fazer mágicas durante o jantar, distraindo os clientes. Uma noite ele se aproximou de uma família e, depois de se apresentar, puxou um baralho e começou seu número. Virando-se para uma moça sentada à mesa, pediu que ela escolhesse uma carta. O pai da moça lhe disse que a filha, Wendy, era cega.

Whit disse:

-Tudo bem. Se ela concordar, eu gostaria de fazer um número com ela.

Virando-se para a moça, meu amigo perguntou:

-Wendy, você gostaria de me ajudar numa mágica?

Um tanto tímida, ela encolheu os ombros e respondeu:

-Tudo bem.

Whit se sentou em frente à moça e disse:

-Vou segurar uma carta, Wendy, que será vermelha ou preta. O que quero é que você use seus poderes psíquicos e me diga de que cor é a carta, vermelha ou preta. Você entendeu?

Wendy concordou com a cabeça. Whit segurou o rei de paus e perguntou;

-Wendy, esta carta é preta ou vermelha?

Depois de um momento, a moça cega respondeu:

-Preta.

Sua família sorriu. Whit levantou o sete de copas e disse:

-Esta carta é vermelha ou preta?

-Vermelha – Wendy respondeu.

Então Whit levantou uma terceira carta, o três de ouros, e perguntou:

-Vermelha ou preta?

-Vermelha! – Wendy disse sem hesitar.

Seus pais riram nervosamente. O mágico levantou mais três cartas e a moça acertou todas. Incrivelmente, ela acertou as seis vezes! Sua família não podia acreditar em sua sorte. Na sétima carta, Whit levantou o cinco de copas e falou:

-Wendy, quero que você me diga qual é a carta e de que naipe ela é ... se é de copas, ouros, paus ou espadas.

Depois de um momento, Wendy respondeu, confiante:

-É o cinco de copas.

Os parentes deixaram escapar um grito. Eles estavam aturdidos! O pai de Wendy perguntou a Whit se ele estava fazendo algum tipo de truque ou mágica mesmo. Whit respondeu:

-O senhor terá de perguntar a Wendy.

O Pai, então, perguntou à filha:

-Wendy, como você fez isso?

Ela sorriu e disse:

-É mágica!

Whit cumprimentou a família, deu um abraço em Wendy, deixou seu cartão de visitas e se despediu. Estava claro que ele havia criado um momento mágico que aquela família jamais esqueceria.

A questão, naturalmente, é como Wendy sabia a cor das cartas? Já que Whit nunca a havia encontrado até aquele momento no restaurante, ele não poderia ter lhe dito antes que cartas eram vermelhas e quais eram pretas. E, já que Wendy era cega, era impossível para ela ver as cores ou o valor das cartas quando ele as levantou. Como foi, então?

Whit pôde criar seu milagre usando um código secreto e rapidez de pensamento. No início de sua carreira, ele havia criado um código para que uma pessoa pudesse passar informações para outra com os pés, sem usar palavras. Ele nunca tivera a chance de usar o código até aquele momento no restaurante. Quando Whit se sentou em frente a Wendy e disse "Vou segurar uma carta, Wendy, e ela será vermelha ou preta", ele bateu de leve no pé dela (sob a mesa) uma vez quando disse a palavra "vermelha" e duas vezes quando disse "preta".

Para ter certeza de que ela o havia entendido, ele repetiu os sinais secretos, dizendo: "O que eu quero é que você use seus poderes psíquicos e me diga de que cor é a carta, vermelha (um toque) ou preta (dois toques). Você entendeu?"

Quando Wendy concordou com a cabeça, ele sabia que ela havia compreendido o código e estava disposta a colaborar com o truque. Sua família supôs que, quando ele perguntou se ela "havia entendido", estava se referindo às suas instruções verbais.

Como ele passou para ela a informação sobre o cinco de copas? Simples. Ele tocou no pé dela cinco vezes para ela saber que ele tinha um cinco. Quando ele perguntou se a carta era de copas, espadas, paus ou ouro, ele comunicou o naipe tocando no pé dela ao dizer "copas".

A mágica real desta história é o efeito que teve em Wendy. Não só lhe deu a chance de brilhar por uns momentos e se sentir especial diante da família, mas tornou-a uma estrela em casa, pois sua família contou a todos os amigos sobre a espantosa experiência "psíquica".

Alguns meses depois, Whit recebeu um pacote de Wendy. Nele, um baralho em braile, com um bilhete. No bilhete, ela lhe agradecia por tê-la feito sentir-se tão especial e por ter lhe permitido "ver", mesmo que por apenas alguns momentos.

Ela disse que ainda não contara à família como acertara as cartas, apesar de eles continuarem a lhe perguntar. Ela terminava dizendo que lhe enviava o baralho em braile para ele poder fazer mais mágicas com pessoas cegas.

Michael Jeffreys
Histórias para Aquecer o Coração das Mulheres
Sextante

quinta-feira, 12 de julho de 2012

No banco

Lembro-me de quando nosso filho Randy jogava muitíssimo bem na Liga Infantil de Futebol. Ele tinha feito uma série de gols incríveis naquele ano e ajudado seu time a chegar à final do campeonato. Era o ano de sua vida e eu, como qualquer pai, estava todo orgulhoso.

Mesmo tendo um desempenho excepcional, Randy foi diversas vezes para o banco de reservas porque os técnicos queriam dar oportunidade ao maior número de garotos possíveis. Sempre educado, Randy não se queixava e parecia contente em dar aos outros a chance de brilhar. Ele não estava lutando pelo lugar.

Mas eu estava!

Mais de uma vez disse ao treinador como me sentia sobre o fato. Como ele podia deixar no banco um garoto que se saíra tão bem naquele ano? Como podia substituí-lo por meninos que não se importavam tanto, nem jogavam tão bem? Ele não queria vencer? Não estava enviando os sinais errados, deixando de lado o garoto que se esforçava mais e jogava melhor?

Na verdade havia realmente sinais errados naquele campo. Mas não vinham do técnico. Era a minha impaciência, minha atitude do tipo vencer-a-qualquer-preço, que estava enviando os sinais errados!

Randy não gostava de ver o pai conversando com o técnico. Isso o deixava nervoso e o envergonhava. Ele ficava olhando por cima do ombro, imaginando como o pai iria reagir a essa ou àquela decisão. Havia uma nuvem ameaçando aquele ano espetacular. No fundo do coração, eu sabia que minhas atitudes o aborreciam – e pedi a Deus que me ajudasse a dar uma freada naquilo.

Quando Randy foi chamado para o time juvenil, todos ficamos eufóricos. Lembro que cheguei um pouco atrasado a um dos jogos porque vinha de uma viagem e fui direto do aeroporto. Andando do estacionamento para o estádio, vi que a equipe de Randy já estava em campo e meu coração começou a bater mais depressa.

Mas onde estava Randy? Cheguei perto das arquibancadas e lá estava ele, sentado no banco. O que era aquilo? Não fazia o menor sentido! Aquele era o artilheiro do time. E ele estava começando o jogo no banco?

Sério, Randy olhou por cima do ombro, observando enquanto eu me sentava na arquibancada. Vendo a expressão de seu rosto, honestamente me senti como se pudesse ler seus pensamentos. Ele estava pensando: "Ah, Senhor. Eu sei que papai está muito desapontado e aborrecido por me ver no banco. Meu Deus, por favor, não o deixe dizer nada, nem demonstrar o que sente."

Pela graça divina, aquele foi o momento em que finalmente compreendi. Enquanto dirigia do aeroporto para o estádio, me senti impressionado por, de alguma forma, ter de convencer aquele jovem de como me orgulhava dele – e de que ele não precisava estar em campo para receber minha aprovação.

Cheguei perto da cerca e me inclinei. Meu filho olhou para cima, um pouco apreensivo.

- Randy, quero que você saiba que papai está tão contente em ver você no banco como gostaria se você estivesse jogando e fazendo gols. Eu não podia estar mais orgulhoso. Você é meu filho e não tem que fazer nada para me agradar ou receber minha aprovação. Minha aprovação é de cem por cento. Amo você, meu filho.

Seus olhos se encheram de lágrimas, e ele sorriu. De alguma maneira, eu sabia que tinha tocado num ponto delicado. E agradeci a Deus de coração, pois sabia que tinha feito exatamente o que era certo.

James Robinson

Histórias para Aquecer o Coração dos Pais - Jack Canfield & Mark V. Hansen & Jeff Aubery & Mark & Chrissy Donnelly
Editora Sextante

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Escola de Anjos


Era uma vez, há muitos e muitos anos, uma escola de anjos. Conta-se que naquele tempo, antes de se tornarem anjos de verdade, os aprendizes de anjos passavam por um estágio. Durante um certo período, eles saiam em duplas para fazer o bem e no final de cada dia, apresentavam ao anjo mestre um relatório das boas ações praticadas. Aconteceu então, um dia, que dois anjos estagiários, depois de vagarem exaustivamente por todos os cantos, regressavam frustrados por não terem podido praticar nenhum tipo de salvamento sequer. Parece que naquele dia, o mal estava de folga. Enquanto voltavam tristes, os dois se depararam com dois lavradores que seguiam por uma trilha. Neste momento, um deles, dando um grito de alegria, disse para o outro:
- Tive uma idéia. Que tal darmos o poder a estes dois lavradores por quinze minutos para ver o que eles fariam?

O outro respondeu:
- Você ficou maluco? O anjo mestre não vai gostar nada disto!

Mas o primeiro retrucou:
- Que nada, acho que ele até vai gostar! Vamos fazer isto e depois contaremos para ele.

E assim o fizeram.
Tocaram suas mãos invisíveis na cabeça dos dois e se puseram a observá-los.
Poucos passos adiante eles se separaram e seguiram por caminhos diferentes.
Um deles, após alguns passos depois de terem se separado, viu um bando de pássaros voando em direção à sua lavoura, e passando a mão na testa suada disse:
- Por favor meus passarinhos, não comam toda a minha plantação! Eu preciso que esta lavoura cresça e produza, pois é daí que tiro o meu sustento.
Naquele momento, ele viu espantado a lavoura crescer e ficar prontinha para ser colhida em questão de segundos.
Assustado, ele esfregou os olhos e pensou: devo estar cansado e acelerou o passo.
Aconteceu que logo adiante ele caiu ao tropeçar em um pequeno porco que havia fugido do chiqueiro.
Mais uma vez, esfregando a testa ele disse: você fugiu de novo meu porquinho!
Mas, a culpa é minha, eu ainda vou construir um chiqueiro decente para você.
Mais uma vez espantado, ele viu o chiqueiro se transformar num local limpo e acolhedor, todo azulejado, com água corrente e o porquinho já instalado no seu compartimento.
Esfregou novamente os olhos e apressando ainda mais o passo disse mentalmente: estou muito cansado!
Neste momento ele chegou em casa e, ao abrir porta, a tranca que estava pendurada caiu sobre sua cabeça.
Ele então tirou o chapéu, e esfregando a cabeça disse: de novo, e o pior é que eu não aprendo. Também, não tem me sobrado tempo. Mas ainda hei de ter dinheiro para construir uma grande casa e dar um pouco mais de conforto para minha mulher. Naquele exato momento aconteceu o milagre.
Aquela humilde casinha foi se transformando numa verdadeira mansão diante dos seus olhos. Assustadíssimo, e sem nada entender, convicto de que era tudo decorrente do cansaço, ele se jogou numa enorme poltrona que estava na sua frente e, em segundos, estava dormindo profundamente.
Não houve tempo sequer para que ele tivesse algum sonho.
Minutos depois ele ouviu alguém pedir socorro: Compadre! Me ajude! Eu estou perdido!
Ainda atordoado, sem entender muito o que estava acontecendo, ele se levantou correndo.
Tinha na mente imagens muito fortes de algo que ele não entendia bem, mas parecia um sonho. Quando ele chegou na porta, encontrou o amigo em prantos.
Ele se lembrava que poucos minutos antes eles se despediram no caminho e estava tudo bem. Então perguntando o que havia se passado ele ouviu a seguinte estória:
- Compadre, nós nos despedimos no caminho e eu segui para minha casa, acontece que poucos passos adiante, eu vi um bando de pássaros voando e direção à minha lavoura.
Este fato me deixou revoltado e eu gritei: Vocês de novo, atacando a minha lavoura, tomara que seque tudo e vocês morram de fome! Naquele exato momento, eu vi a lavoura secar e todos os pássaros morrerem diante dos meus olhos! Pensei comigo, devo estar cansado, e apressei o passo.
Andei um pouco mais e cai depois de tropeçar no meu porco que havia fugido do chiqueiro.
Fiquei muito bravo e gritei mais uma vez: Você fugiu de novo? Por que não morre logo e pára de me dar trabalho? Compadre, não é que o porco morreu ali mesmo, na minha frente.
Acreditando estar vendo coisas, andei mais depressa, e ao entrar em casa, me caiu na cabeça a tranca da porta.
Naquele momento, como eu já estava mesmo era com raiva, gritei novamente:
- Esta casa... Caindo aos pedaços, por que não pega fogo logo e acaba com isto?...

Para surpresa minha, compadre, naquele exato momento a minha casa pegou fogo, e tudo foi tão rápido que eu nada pude fazer!
Mas, compadre... O que aconteceu com a sua casa? De onde veio esta mansão?
Depois de tudo observarem, os dois anjos foram, muito assustados, contar para o anjo mestre o que havia se passado.
Estavam muito apreensivos quanto ao tipo de reação que o anjo mestre teria.
Mas tiveram uma grande surpresa.
O anjo mestre ouviu com muita atenção o relato, parabenizou os dois pela idéia brilhante que haviam tido, e resolveu decretar que a partir daquele momento, todo ser humano teria 15 minutos de poder ao longo da vida.
Só que ninguém jamais saberia quando estes 15 minutos de poder estariam acontecendo.

Será que os 15 minutos próximos serão os seus?

Muito cuidado com tudo o que você diz, como age e aquilo que pensa!
Sua mente trabalhará para que tudo aconteça, seja bom ou ruim.

O amor e o taxista


Outro dia, estava em Nova York, e tomei um táxi com um amigo. Quando descemos, meu amigo disse ao motorista:

- Obrigado pela condução. Você dirigiu muito bem.

O motorista de táxi ficou atordoado por um segundo. Então disse:

- Você é algum engraçadinho?

- Não, meu caro, e não estou caçoando de você. Admiro a forma como você se mantém calmo no trânsito pesado.

- É – disse o motorista, e partiu.

- O que significou tudo isso? – perguntei.

- Estou tentando trazer o amor de volta a Nova York – disse ele – Acho que é a única coisa que pode salvar a cidade.

- Como um homem só pode salvar a cidade?

- Não sou um homem só. Acho que ganhei o dia para aquele motorista de táxi. Suponha que ele tenha vinte passageiros. Ele será gentil com esses vinte passageiros porque alguém foi gentil com ele. Por sua vez, esses passageiros serão gentis com seus empregados ou gerentes ou garçons ou até com suas próprias famílias. Finalmente, o bom humor poderia se espalhar para até mil pessoas. Agora não está nada mal, não é?

- Mas você depende de que aquele motorista de táxi passe o seu bom humor aos outros.

- Não dependo – disse meu amigo. – Estou consciente de que o sistema não é infalível, e assim farei o mesmo com dez pessoas diferentes hoje. Se entre estas dez eu puder fazer três felizes, ao final posso influenciar indiretamente as atitudes de mais 3.000.

- Esta teoria soa bem – admiti -, mas não tenho certeza de que funciona na prática.

- Não perderei coisa alguma se não funcionar. Não gastei meu tempo dizendo àquele homem que ele dirigiu bem. Ele não recebeu uma gorjeta maior nem menor. Se entrar por um ouvido e sair pelo outro, e daí? Amanhã haverá um outro motorista de táxi que eu possa tentar fazer feliz.

- Você é maluco - eu disse.

- Isso demonstra o quanto você se tornou cético. Fiz um estudo sobre esse assunto. Aparentemente, o que está faltando aos nossos funcionários dos correios, além do dinheiro, claro, é que ninguém diz a eles que estão fazendo um ótimo trabalho.

- Mas eles não estão.

- Não estão, porque acham que ninguém se importa com isso. Por que alguém não deveria dizer uma palavra bondosa a eles?

Passávamos por uma obra em construção e cinco operários estavam almoçando. Meu amigo parou.

- É um magnífico trabalho, o de vocês. Deve ser difícil e perigoso.

Os operários olharam meu amigo desconfiados.

- Quando estará terminado?

- Junho – grunhiu um homem.

- Ah. Realmente impressionante. Vocês todos devem estar muito orgulhosos.

Fomos embora. Eu disse a ele:

- Não vejo ninguém como você desde Dom Quixote de La Mancha.

- Quando aqueles homens digerirem minhas palavras se sentirão melhor. De alguma forma a cidade se beneficiará de sua felicidade.

- Mas você não pode fazer tudo isso sozinho! – protestei. – Você é apenas um homem.

- O mais importante é não desanimar. Fazer com que as pessoas da cidade se tornem boas novamente não é um trabalho fácil, mas se eu puder incluir outras pessoas em minha campanha...

- Você acaba de deixar passar uma mulher muito simpática – eu disse.

- Sim, eu sei – replicou ele. – E se ela for professora, sua aula de hoje será fantástica.

Art Buchwald

Canja de Galinha para a Alma
Jack Canfield & Mark Victor Hansen
Ediouro

terça-feira, 10 de julho de 2012

Burrice


Caminhavam dois burros, um com uma carga de açúcar, outro com uma carga de esponjas.

Dizia o primeiro:
- Caminhemos com cuidado, porque a estrada é perigosa.

O outro argüiu:
- Onde está o perigo? Basta andarmos pelo rastro dos que hoje passaram por aqui.

- Nem sempre é assim. Onde passa um, pode não passar outro.

- Que burrice! Eu sei viver, gabo-me disso, e minha ciência toda se resume em só imitar o que os outros fazem.

- Nem sempre é assim, nem sempre é assim... continuou a filosofar o primeiro.

Nisto alcançaram o rio, cuja ponte caíra na véspera.

- E agora?

- Agora é passar a vau.

O burro de açúcar meteu-se na correnteza e, como a carga ia se dissolvendo ao contato da água, conseguiu sem dificuldade pôr pé na margem oposta.

O burro da esponja, fiel às suas idéias, pensou consigo:
- Se ele passou, passarei também - e lançou-se ao rio.

Mas sua carga, em vez de esvair-se como a do primeiro, cresceu de peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo.

- Bem dizia eu! Não basta querer imitar, é preciso poder imitar - comentou o outro.

Do livro: Fábulas - Monteiro Lobato - Editora Brasiliense

O Homem que Dizia a Verdade


Antigamente, reinava na cidade de Siracusa, na Sicília, um tirano cruel e vaidoso chamado Dionísio. Vivia cercado por uma corte de bajuladores, que não se atreviam a dizer senão elogios, embora o criticassem duramente pelas costas.
Uma das vaidades de Dionísio era se considerar poeta. Não perdia uma oportunidade de fazer versos. Reunia então os cortesãos e recitava suas últimas composições. Todos aplaudiam e expressavam admiração por seu gênio, louvavam a beleza da poesia e Dionísio ficava muito satisfeito.
O homem mais culto de Siracusa era um filósofo chamado Filoxeno. Dionísio já estava tão envaidecido pelos repetidos aplausos dos cortesãos que mandou chamar Filoxeno para que também ouvisse seus versos e louvasse seu talento de poeta.
Filoxeno se apresentou, ouviu os versos, e Dionísio mal podia esperar as palavras de admiração e louvor à sua arte. Mas, para espanto de todos, o filósofo afirmou que os versos eram tão maus que não mereciam ser chamados de poesia, assim como o autor não merecia o nome de poeta. Dionísio ficou fora de si diante de tamanha franqueza. Chamou os guardas, ordenou que acorrentassem Filoxeno e o levassem ao calabouço, destinado aos piores criminosos.
Quando a notícia chegou aos ouvidos dos amigos de Filoxeno, eles ficaram indignados. Como o tempo passava e o filósofo continuava preso, enviaram a Dionísio uma carta pedindo a liberdade de Filoxeno.
Talvez Dionísio temesse a ira de um bom número de súditos, ou talvez tivesse uma razão inteiramente diferente, como se verá. O fato é que Dionísio concordou em libertar o filósofo, com a condição de que viesse jantar com ele uma vez mais.
Filoxeno foi. Ao fim do grande banquete, na presença de todos os cortesãos, o rei se levantou e leu os novos versos de sua lavra. Queria que o filósofo, que só dizia a verdade, os ouvisse, pois achava-os excepcionalmente bons. Os cortesãos aduladores tinham a mesma opinião, a julgar por seus gestos e elogios. Apenas Filoxeno continuava em silêncio, sem nada dizer, sem que a expressão do rosto traísse seu veredicto.
Não era absolutamente o que Dionísio esperava. Controlou a impaciência tanto quanto pôde. Vendo que Filoxeno não se manifestava, o tirano dirigiu-se a ele com pretensa calma e, achando que ele não ousaria provocar novamente sua ira, disse:
- Diga-me, Filoxeno, sua opinião sobre este meu novo poema.
De fato, ninguém esperava a resposta que ele deu. Pois, dando as costas aos participantes do banquete, Filoxeno dirigiu-se aos guardas e disse, em tom de repugnância:
- Levem-me de volta ao calabouço!
Era a maneira mais clara de externar sua opinião. Sabendo que a honestidade resultaria em punição, escolheu o método mais direto. Preferia voltar à cela por sua própria vontade.
Os cortesãos ficaram horrorizados diante de tão óbvia declaração. Apavorados aguardaram a reação de Dionísio. Mas o tirano, embora um poço de vaidade, tinha algum senso de humor e certo respeito pela coragem moral. Deixando os cortesãos trêmulos de medo, voltou-se com um sorriso para o imperturbável Filoxeno e deu-lhe permissão para ir em paz.

O Livro das Virtudes - William J. Bennett - Editora Nova Fronteira (pág. 295/296)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A meia-verdade


Relata-se o seguinte incidente envolvendo o profeta Maomé. O profeta e um dos seus companheiros entrou numa cidade para ensinar.
       Logo um adepto dos seus ensinamentos aproximou-se e disse:
       - "Meu senhor, não há nada exceto estupidez nesta cidade. Os habitantes são tão obstinados! Ninguém quer aprender nada. Tu não irás converter nenhum desses corações de pedra."
       O profeta respondeu bondosamente:
       - "Tu tens razão."
       Logo depois, outro membro da comunidade abordou o profeta. Cheio de alegria, ele disse:
       - "Mestre, tu estás numa cidade abençoada. O povo anseia receber o verdadeiro ensinamento, e as pessoas abrem seus corações à tua palavra."
       Maomé sorriu bondosamente e novamente disse:
       - "Tu tens razão."
       - "Ó mestre", disse o companheiro de Maomé, "tu disseste ao primeiro homem que ele tinha razão, e ao segundo homem, que afirmou o contrário, tu disseste que ele também tinha razão. Pois negro não pode ser branco."
       Maomé respondeu:
       - "Cada um vê o mundo do jeito que espera que seja. Por que deveria eu refutar os dois homens? Um deles vê o mal, o outro, o bem. Tu dirias que um deles vê falsamente? Não são as pessoas aqui e em toda parte boas e más ao mesmo tempo? Nenhum dos dois disse algo equivocado, disseram apenas algo incompleto."
      Do livro: O Mercador e o Papagaio
      Nossrat Peseschkian - Ed. Papirus

A sabedoria do raquim


O sultão estava a bordo de um navio com um dos seus melhores servos. O servo, que nunca havia feito uma viagem (com efeito, como filho das montanhas ele nunca tinha visto o litoral), sentou-se no porão do navio e choramingava. Todos foram bondosos para com ele e procuraram acalmar seu medo, mas essa bondade chegou somente ao seu ouvido, não ao seu coração medroso. O rei não agüentava mais ouvir os gritos do seu servo, e a viagem pelas águas azuis, debaixo do céu azul, já não tinha prazer para ele.

Então o sábio raquim, o médico, aproximou-se dele e disse: "Vossa Majestade, com vossa permissão, eu posso acalmá-lo." Sem demorar um instante, o sultão deu sua permissão.

O raquim mandou que os marinheiros jogassem o homem ao mar; os marinheiros fizeram isso ao chorão com muito prazer. O servo debateu-se na água, fez esforços para respirar, agarrou-se à borda do navio e implorou que o tomassem a bordo de novo. Então eles puxaram-no para cima pelos cabelos. Daquele momento em diante ele sentou-se muito quieto num canto. Ninguém ouviu mais uma palavra de medo da sua boca. O sultão ficou assombrado e perguntou ao raquim: "Que sabedoria está contida nessa ação?".

O raquim respondeu: "Ele nunca tinha saboreado o sal da água do mar. E ele não conhecia o grande perigo que existe no mar. Portanto ele não poderia saber quão maravilhoso é ter as pranchas fortes do navio debaixo dele. Somente aquele que já enfrentou o perigo pode saber o valor da paz e tranqüilidade. Vossa Majestade, que sempre teve o suficiente para comer, não conhece o gosto do pão caseiro do interior. A garota que Vossa Majestade não acha bonita é minha amada. Existe uma diferença entre um homem que tem sua amada ao seu lado e um homem que aguarda ansiosamente sua chegada." (apud Saadi)

Do livro: O Mercador e o Papagaio

domingo, 8 de julho de 2012

O Elogio

Poucas coisas motivam mais as pessoas que elogios. As pessoas respondem na justa medida de nossa expectativa a respeito delas. Dizer que elas fizeram um bom trabalho faz com que se esforcem ainda mais para continuar fazendo um bom trabalho.
Quando os elogios são feitos publicamente, seus benefícios multiplicam-se. A pessoa elogiada não só se esforça mais, mas também passa a ter uma reputação positiva. Isso aumenta o valor da pessoa diante dos outros e os motiva a serem como ela.
Certa vez ouvi uma história que mostrava como isso funcionava.
Poucos meses depois de se mudar para uma pequena cidade, uma mulher reclamava a seu vizinho sobre o péssimo serviço que havia recebido de uma mercearia local. Ela sabia que seu vizinho era amigo do proprietário e esperava que ele transmitisse sua queixa.
Na visita seguinte que ela fez a mercearia o proprietário recebeu-a com um largo sorriso e disse o quanto estava feliz em vê-la novamente. Esperava que ela estivesse gostando de sua cidade e, ainda, disse que teria imenso prazer em ajudá-los a se estabelecerem. Atendeu pronta e eficientemente o pedido que ela fez. Mais tarde, a mulher relatou a miraculosa mudança para seu novo amigo.
"Suponho que você tenha dito a ele como achei ruim seu atendimento, não disse?" ela perguntou.
"Bem, não", respondeu o vizinho. "A bem da verdade, espero que não se importe - disse-lhe que você estava surpresa de ele ter conseguido montar numa cidade pequena uma das mercearias mais bem dirigidas que você já havia visto."

O urso faminto

Certa vez, um urso faminto perambulava pela floresta em busca de alimento. A época era de escassez, porém, seu faro aguçado sentiu o cheiro de comida e o conduziu a um acampamento de caçadores. Ao chegar lá, o urso, percebendo que o acampamento estava vazio, foi até a fogueira, ardendo em brasas, e dela tirou um panelão de comida. Quando a tina já estava fora da fogueira, o urso a abraçou com toda sua força e enfiou a cabeça dentro dela, devorando tudo. Enquanto abraçava a panela, começou a perceber algo lhe atingindo.
Na verdade, era o calor da tina... Ele estava sendo queimado nas patas, no peito e por onde mais a panela encostava. O urso nunca havia experimentado aquela sensação e, então, interpretou as queimaduras pelo seu corpo como uma coisa que queria lhe tirar a comida.
Começou a urrar muito alto. E, quanto mais alto rugia, mais apertava a panela quente contra seu imenso corpo. Quanto mais a tina quente lhe queimava, mais ele apertava contra o seu corpo e mais alto ainda rugia.
Quando os caçadores chegaram ao acampamento, encontraram o urso recostado a uma árvore próxima à fogueira, segurando a tina de comida. O urso tinha tantas queimaduras que o fizeram grudar na panela e, seu imenso corpo, mesmo morto, ainda mantinha a expressão de estar rugindo. Quando terminei de ouvir esta história de um mestre, percebi que, em nossa vida, por muitas vezes, abraçamos certas coisas que julgamos ser importantes.
Algumas delas nos fazem gemer de dor, nos queimam por fora e por dentro, e mesmo assim, ainda as julgamos importantes. Temos medo de abandoná-las e esse medo nos coloca numa situação de sofrimento, de desespero.
Apertamos essas coisas contra nossos corações e terminamos derrotados por algo que tanto protegemos, acreditamos e defendemos. Para que tudo dê certo em sua vida, é necessário reconhecer, em certos momentos, que nem sempre o que parece salvação vai lhe dar condições de prosseguir. Tenha a coragem e a visão que o urso não teve.
Tire de seu caminho tudo aquilo que faz seu coração arder. Solte a panela!

sábado, 7 de julho de 2012

Professor criativo

Olhem o que um professor é capaz de fazer. O fato narrado abaixo é real e aconteceu em um curso de Engenharia da USJT (Univ. São Judas Tadeu), tornando-se logo uma das "lendas" da faculdade...
Na véspera de uma prova, 4 alunos resolveram chutar o balde: iriam viajar. Faltaram a prova e então resolveram dar um "jeitinho".
Voltaram à USJT na terça, sendo que a prova havia ocorrido na segunda.Então dirigiram-se ao professor:
- Professor, fomos viajar, o pneu furou, não conseguimos consertá-lo, tivemos mil problemas, e por conta disso tudo nos atrasamos, mas, gostaríamos de fazer a prova.
O professor, sempre compreensivo:
- Claro, vocês podem fazer a prova hoje a tarde, após o almoço.
- E assim foi feito. Os rapazes correram para casa e se racharam de tanto estudar, na medida do possível. Na hora da prova, o professor colocou cada aluno em uma sala diferente e entregou a prova:
Primeira pergunta, valendo 1 ponto: algo sobre a Lei de Ohm.
Os quatro ficaram contentes pois haviam visto algo sobre o assunto. Pensaram que a prova seria muito fácil e que haviam conseguido se "dar bem".
Segunda pergunta, valendo 9 pontos: "Qual pneu furou?"

O prognóstico

Uma jovem mãe, submetida a um tratamento contra câncer, voltou do hospital sem cabelos, por causa da radioterapia, e muito consciente da sua aparência.
Estava sentada na cozinha, quando seu filho apareceu na porta, olhando-a curiosamente.
Quando a mãe iniciou o discurso que ensaiara para ajudá-lo a entender o que via, o menino se aproximou e aconchegou-se em seu colo, quietinho, a cabeça recostada em seu peito.
A mãe acariciou a cabecinha do filho e disse: "Você vai ver como daqui a pouco o meu cabelo vai crescer e eu vou ficar melhor, como era antes."
O menininho se levantou, olhou para a mãe pensativo. Com a espontaneidade de seus seis anos, respondeu: "Seu cabelo está diferente, mas seu coração está igualzinho."
A mãe não precisava mais esperar por "daqui a pouco" parar melhorar. Com os olhos cheios de lágrimas, ela se deu conta de que já estava muito melhor.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Aula de Filosofia

Um professor de Filosofia entra na sala de aula, põe a cadeira em cima da mesa e escreve no quadro:
"Provem-me que esta cadeira não existe".
Apressadamente, os alunos começam a escrever longas dissertações sobre o assunto.
No entanto, um dos alunos escreve apenas duas palavras na folha e entrega-a ao professor.
Este, quando a recebe, não pode deixar de sorrir depois de ler:
"Que cadeira?"
Conclusão: Não procure chifres em cabeça de cavalo ou pelo em ovo.
Opte pela simplificação.

A Carga

Conta-se uma fábula sobre um homem que caminhava vacilante pela estrada, levando uma pedra em uma das mãos e um tijolo na outra. Nas costas carregava um saco de terra; em volta do peito trazia vinhas penduradas. Sobre a cabeça equilibrava uma abóbora pesada.
Pelo caminho encontrou um transeunte que lhe perguntou:
- Cansado viajante, por que carrega essa pedra tão grande?
- É estranho, respondeu o viajante, mas eu nunca tinha realmente notado que a carregava.
Então, ele jogou a pedra fora e se sentiu muito melhor. Em seguida veio outro transeunte que lhe perguntou:
- Diga-me, cansado viajante, por que carrega essa abóbora tão pesada?
- Estou contente que me tenha feito essa pergunta, disse o viajante, porque eu não tinha percebido o que estava fazendo comigo mesmo.
Então ele jogou a abóbora fora e continuou seu caminho com passos muito mais leves. Um por um, os transeuntes foram avisando-o a respeito de suas desnecessárias cargas. E ele foi abandonando uma a uma. Por fim, tornou-se um homem livre e caminhou como tal.
Qual era na verdade o problema dele? A pedra e a abóbora? Não! Era a falta de consciência da existência delas. Uma vez que as viu como cargas desnecessárias, livrou-se delas bem depressa e já não se sentia mais tão cansado.
Esse é o problema de muitas pessoas. Elas estão carregando cargas sem perceber. Não é de se estranhar que estejam tão cansadas.
Temos que prestar atenção às cargas que roubam nossas forças e energia: pensamentos negativos, culpa, falta de perdão, mágoa, ciúmes, sentimentos de ódio, vingança, autopiedade...

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Lenda Oriental

Conta uma lenda popular do oriente que um jovem chegou a um oásis, próximo de um povoado, e aproximando-se de um velho sábio, perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoas vive neste lugar?
- Que tipo de pessoas vive no lugar de onde vens? - Perguntou o sábio.
- É um grupo de pessoas egoístas e malvadas, replicou o rapaz, estou satisfeito de ter saído de lá.
O sábio respondeu.
- Aqui encontrarás o mesmo.
No mesmo dia, um outro jovem aproximou-se do oásis para beber água e, vendo o sábio, perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoas vive aqui?
O sábio respondeu com a mesma pergunta:
- Que tipo de pessoas vive no lugar de onde vens?
O rapaz respondeu-lhe:
- É um magnífico grupo de pessoas amigas, honestas e hospitaleiras. Fiquei um pouco triste por ter de deixá-las.
- O mesmo encontrarás aqui, respondeu o sábio.
Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao sábio:
- Como é possível dar respostas tão diferentes à mesma pergunta?
O sábio respondeu-lhe:
- Cada um carrega no seu coração o meio em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também encontrará aqui. Somos todos viajantes no tempo, e o futuro de cada um está escrito no passado; ou seja, cada um encontra na vida exatamente aquilo que traz dentro de si mesmo.

MORAL DA HISTÓRIA:
O ambiente, o presente e o futuro somos nós que criamos, e isso só depende de nós mesmos.

Deixe a raiva secar

Mariana ficou toda feliz porque ganhou de presente um joguinho de chá, todo azulzinho, com bolinhas amarelas. No dia seguinte, Julia sua amiguinha, veio bem cedo convidá-la para brincar.
Mariana não podia porque ia sair com sua mãe naquela manhã. Julia, então, pediu a coleguinha que lhe emprestasse o seu conjuntinho de chá para que ela pudesse brincar sozinha na garagem do prédio.
Mariana não queria emprestar, mas, com a insistência da amiga, resolveu ceder, fazendo questão de demonstrar todo o seu ciúme pôr aquele brinquedo tão especial.
Ao regressar do passeio, Mariana ficou chocada ao ver o seu conjuntinho de chá jogado no chão. Faltavam algumas xícaras e a bandejinha estava toda quebrada.
Chorando e muito nervosa, Mariana desabafou: Esta vendo, mamãe, o que a Julia fez comigo?
Emprestei o meu brinquedo, ela estragou tudo e ainda deixou jogado no chão. Totalmente descontrolada, Mariana queria, porque queria, ir ao apartamento de Julia pedir explicações. Mas a mamãe, com muito carinho, ponderou:
- Filhinha, lembra daquele dia quando você saiu com seu vestido novo todo branquinho e um carro, passando, jogou lama em sua roupa?
Ao chegar a sua casa você queria lavar imediatamente aquela sujeira, mas a vovó não deixou.
Você lembra do que a vovó falou? Ela falou que era para deixar o barro secar primeiro. Depois ficava mais fácil limpar. Pois e, minha filha! Com a raiva e a mesma coisa.
Deixa a raiva secar primeiro. Depois fica bem mais fácil resolver tudo. Mariana não entendeu muito bem, mas resolveu ir para a sala ver televisão.
Logo depois alguém tocou a campainha. Era Julia, toda sem graça, com um embrulho na mão. Sem que houvesse tempo para qualquer pergunta, ela foi falando:
- Mariana, sabe aquele menino mau da outra rua que fica correndo atrás da gente?
Ele veio querendo brincar comigo e eu não deixei. Ai ele ficou bravo e estragou o brinquedo que você havia me emprestado.
Quando eu contei para a mamãe ela ficou preocupada e foi correndo comprar outro brinquedo igualzinho para você. Espero que você não fique com raiva de mim.
Não foi minha culpa.
Não tem problema, disse Mariana, minha raiva já secou. E, tomando a sua coleguinha pela mão, levou-a para o quarto para contar história do vestido novo que havia sujado de barro.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A maior bronca que já levei

Tínhamos uma aula de Fisiologia na escola de medicina logo após a semana da Pátria. Como a maioria dos alunos havia viajado aproveitando o feriado prolongado, todos estavam ansiosos para contar as novidades aos colegas e a excitação era geral. Um velho professor entrou na sala e imediatamente percebeu que iria ter trabalho para conseguir silêncio.
Com grande dose de paciência tentou começar a aula, mas você acha que minha turma correspondeu?
Que nada. Com um certo constrangimento, o professor tornou a pedir silêncio educadamente. Não adiantou, ignoramos a solicitação e continuamos firmes na conversa. Foi aí que o velho professor perdeu a paciência e deu a maior bronca que eu já presenciei.
"Prestem atenção porque eu vou falar isso uma única vez", disse, levantando a voz e um silêncio carregado de culpa se instalou em toda a sala e o professor continuou.
"Desde que comecei a lecionar, isso já faz muito anos, descobri que nós professores, trabalhamos apenas 5% dos alunos de uma turma. Em todos esses anos observei que de cada cem alunos, apenas cinco são realmente aqueles que fazem alguma diferença no futuro; apenas cinco se tornam profissionais brilhantes e contribuem de forma significativa para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Os outros 95% servem apenas para fazer volume; são medíocres e passam pela vida sem deixar nada de útil.
O interessante é que esta percentagem vale para todo o mundo. Se vocês prestarem atenção notarão que de cem professores, apenas cinco são aqueles que fazem a diferença; de cem garçons, apenas cinco são excelentes; de cem motoristas de táxi, apenas cinco são verdadeiros profissionais; e podemos generalizar ainda mais: de cem pessoas, apenas cinco são verdadeiramente especiais.
É uma pena muito grande não termos como separar estes 5% do resto, pois se isso fosse possível, eu deixaria apenas os alunos especiais nesta sala e colocaria os demais para fora, então teria o silêncio necessário para dar uma boa aula e dormiria tranqüilo sabendo ter investido nos melhores.
Mas, infelizmente não há como saber quais de vocês são estes alunos. Só o tempo é capaz de mostrar isso. Portanto, terei de me conformar e tentar dar uma aula para os alunos especiais, apesar da confusão que estará sendo feita pelo resto. Claro que cada um de vocês sempre pode escolher a qual grupo pertencerá. Obrigado pela atenção e vamos à aula de ...".
Nem preciso dizer o silêncio que ficou na sala e o nível de atenção que o professor conseguiu após aquele discurso. Aliás, a bronca tocou fundo em todos nós, pois minha turma teve um comportamento exemplar em todas as aulas de Fisiologia durante todo o semestre; afinal quem gostaria de espontaneamente ser classificado como fazendo parte do resto ?
Hoje não me lembro muita coisa das aulas de Fisiologia, mas a bronca do professor eu nunca mais esqueci. Para mim, aquele professor foi um dos 5% que fizeram a diferença em minha vida. De fato, percebi que ele tinha razão e, desde então, tenho feito de tudo para ficar sempre no grupo dos 5%, mas, como ele disse, não há como saber se estamos indo bem ou não; só o tempo dirá a que grupo pertencemos.
Contudo, uma coisa é certa:
se não tentarmos ser especiais em tudo que fazemos,
se não tentarmos fazer tudo o melhor possível,
seguramente sobraremos na turma do resto."